Alex Ross, Sophie Calle e Gregoire Bouillier, Anne Enright e James Salter, Gay Talese e António Lobo Antunes. Essas foram as atrações deste sábado.
Ross, crítico de música erudita na revista New Yorker, falou de seu livro “O resto é ruído”. Lembrou de uma época em que os grandes concertos eram acontecimentos. Em que o público reagia ao que via e ouvia, tomava partido, tinha opinião. Havia tumulto. Os compositores eram celebridades. Tive saudade desse tempo que não conheci. Hoje, arrisca o próprio autor, as pessoas têm medo de se manifestar: “não queremos estar do lado errado da história”. Uma pena.
Sophie e Gregoire, na primeira aparição pública conjunta, falaram do trabalho dela. Sophie, após receber um e-mail de Gregoire rompendo o relacionamento que mantinham, pediu a 107 mulheres que analisassem a mensagem. Com esse material, construiu seu trabalho, intitulado “Prenez soin de vous”, frase de despedida utilizada pelo ex-namorado.
Apesar do visível nervosismo de ambos, o debate rendeu bons momentos. O suficiente para se conhecer melhor o trabalho de Sophie, difícil de classificar. (Por aqui, ela foi apresentada como sendo uma “artista conceitual”, seja lá o que isso signifique.) Mas muito pouco se falou da obra de Gregoire, escritor francês de origem argelina, que, certamente, merecia atenção.
Anne Enright e James Salter, com a mediação de Liz Calder, presidente da FLIP, falaram de seus respectivos trabalhos. Salter, escritor americano, substituiu Tobias Wolff, cujo trabalho, aparentemente, apresenta mais pontos de contato com Enright, escritora irlandesa, vencedora do Booker Prize de 2007 com o livro “O Encontro”. Com isso, a unidade da mesa acabou se perdendo. Não houve grande interação, mas sim a apresentação do trabalho de um e de outro.
Gay Talese, mestre do jornalismo literário americano, sempre impecável, foi o próximo a subir ao palco. Quem chegou a Paraty já na quarta-feira, certamente teve a oportunidade de vê-lo caminhando pela cidade, sempre de terno e chapéu. Coube a Mario Sergio Conti, com muita sutileza, conduzir a conversa. Talese se estendeu nas respostas, caprichando nos detalhes. Consultou o relógio a cada nova pergunta, controlando ele mesmo a duração da entrevista. Falou do seu bastante controvertido método de trabalho, da sua infância, dos livros publicados e do livro que está desenvolvendo agora, onde analisa seu próprio casamento.
Para encerrar a noite, Humberto Werneck recebeu o escritor português Lobo Antunes. Foi um sucesso. A empatia logo estabelecida entre entrevistador e entrevistado e a proximidade do autor, cujo avô era brasileiro, com o país parecem ter sido suficientes para deixar Lobo Antunes à vontade.
Histórias de família, referências literárias, amizades e literatura. Os temas abordados foram muitos. A platéia quase chegou a atrapalhar, com tantos aplausos. Apesar do sucesso alcançado por Lobo Antunes em Portugal e no exterior, com 21 livros publicados, o autor não é muito conhecido pelo público brasileiro. Espero que isso mude agora.
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