sábado, 28 de fevereiro de 2009
Da incrível arte de economizar um livro
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Catecismo de devoções, intimidades e pornografias
A leitura é fácil e divertida. A provocação do título – entre religião e sexo – é explícita no texto. Mas o melhor de tudo é sair do lugar comum, do discurso possível e esperado, para a sem-cerimônia de Xico Sá.
Ficha Técnica: “Catecismo de devoções, intimidades e pornografias”, Xico Sá, Editora do Bispo.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Poesias de Martha Medeiros
se você for
exatamente como imagino
igualzinho aos meus sonhos
eu vou embora
detesto estraga prazeres
44.
quando dou pra ti
sou mulher
quando dou por mim
solidão
Técnica: "Poesia Reunida", de Martha Medeiros, L&PM Pocket: 1999
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Mongólia
Mas não sei quanto do autor está impresso nesse trabalho. E é engraçado dizer isso, pois esse é o primeiro livro dele que leio. Já li outros textos, entrevistas, artigos. Já o ouvi falar num evento aberto ao público. Nada mais que isso.
No entanto, apesar da minha ignorância – ou exatamente por causa dela – fiquei com essa sensação esquisita de que o autor optou por se revelar menos nesse livro. Como se o autor se poupasse, se afastasse para que a história fosse mais facilmente digerida.
Definitivamente, preciso ler mais. Pensei em “Nove Noites”, “Aberrações” ou “Os Bêbados e os Sonâmbulos”.
No final, restou a sensação de que fracassei nessa leitura. Não consegui entender o que move os personagens. Não consegui me deixar convencer por eles. Por suas buscas. Nem me transportar para a Mongólia. Ao contrário do que aconteceu em relação ao Tibet, lendo o livro de Xinran, “O Enterro Celestial”.
Ainda assim atravessei a noite para chegar ao fim da história. Tive um vislumbre, não uma revelação.
Ficha Técnica: “Mongólia”, de Bernardo Carvalho, Companhia das Letras.
Intolerância
Um homem e quatro mulheres. Num domingo de chuva. Dividem a mesa ao meu lado, no café de uma livraria. O tema da conversa: bichinhos de estimação. Eu adoraria não ouvir a conversa deles, mas, considerando a distância geográfica, isso é impossível.
Descobri que o filho de um deles tem uma galinha de estimação e que todos eles adoraram o tal do labrador-ator, chamado Marley. Tive a honra de ser relembrada das velhas máximas dos famigerados donos de animais domésticos: “é como um filho”, “faz companhia”. (Desde quando filhos fazem companhia aos pais?)
Também acompanhei o extraordinário desenvolvimento de um dos bichanos: “faz xixi no jornal”. Descobri que alguns hotéis oferecem até aulinha de natação e que o faxineiro do prédio de uma delas é pago para fazer companhia ao cachorrinho que fica em casa sozinho o dia todo.
(Nunca entendi como alguém pode dizer que gosta de animais e submeter o dito cujo a viver sozinho, na maior parte do tempo, trancafiado num apartamento.)
Ainda aprendi que “gato é bem mais fácil de cuidar do que cachorro, o problema é que é imprevisível”.
Continuava a chover. E eu sem guarda-chuva. Nem paciência.
domingo, 1 de fevereiro de 2009
Jerusalém
As pessoas estão no centro da narrativa. São elas que impulsionam a história. Os fatos servem apenas como pano de fundo. Os fatos servem apenas para moldar as personagens, explicitá-las.
O texto é construído, medido, calculado. É cíclico também. De repente nos damos conta de que estamos de volta ao ponto de partida. E de novo. E mais uma vez.
Loucura e sanidade se confundem. Na verdade, a distinção entre ambas é que deixa de importar. O horror, do passado e do presente, perpassa a narrativa sem se importar com saúde ou doença,
normalidade ou demência.
O horror e o humano se fundem. Não há ciência o bastante. Não há justiça, nem clamor por justiça, nem tristeza ou lamento. Só uma espécie de balanço, de controle aleatório e casual, quase mecânico, que incide sobre a cidade como um raio.
Resta, sempre, a solidão.
Ficha Técnica: “Jerusalém”, de Gonçalo M. Tavares, Companhia das Letras.
Cal
A proximidade. O autor chama o leitor para si. Ou, talvez, não se trate da relação entre o autor e o leitor, mas sim do autor com ele mesmo. José Luís Peixoto parece não tem medo de se revelar. Algo pouco comum no ser social. E isso nos arrasta em direção ao seu universo.
Talvez seja isso o que me atrai ao texto, essa suposta exposição. Que parece natural, espontânea, não sofrida. Como se o autor dissesse “nada tenho a esconder”.
E as histórias da aldeia, de uma aldeia do passado, que não mais existe. Como se o autor já fosse um homem muito velho. Como se houvesse uma distância enorme entre ele e suas histórias. Como se não fossem histórias, mas reminiscências.
Mas essa ilusão de passado não perdura. De repente, estamos na aldeia. E a aldeia não tem idade, nem tempo ou lugar. Atemporal e perdida.
Histórias. Mais do que histórias, visões. O olhar do autor sobre a vida, a morte, a infância, o passado, o presente, o futuro.
Ficha Técnica: “Cal”, de José Luís Peixoto, Bertrand Editora.