quarta-feira, 9 de julho de 2008

Fim de Festa

A Flip chegou ao fim. O horário da última mesa – 17h – foi muito bem escolhido. Com o fim da festa, acabava também o dia.

Cada um dos oito autores presentes – Chimamanda Adichie, Nathan Englander, Zoë Heller, Neil Gaiman, Cintia Moscovich, Alessandro Baricco, Tom Stoppard e Cees Nooteboom – leu um trecho do livro que escolheu especialmente para a ocasião.

A aparição de Liz Calder, idealizadora da Flip, deu um charme a mais à ocasião, e um toque de pessoalidade que combinou com o evento. A Flip é uma festa, e não uma feira. E isso é evidenciado o tempo todo.

Foi uma ótima festa.

Pena que acabou.

Para os curiosos, segue a relação dos livros selecionados pelos autores:

Chimamanda Adichie – “The Autobiography of My Mother”, de Jamaica Kincaid.Nathan Englander – “Goodbye, My Brother”, de John Cheever.
Zoë Heller – “The Member of The Wedding”, de Carson McCullers.
Neil Gaiman – “Thirteen Clocks”, de James Thurber.
Cintia Moscovich – “De Amor e Trevas”, de Amóz Oz.
Alessandro Baricco – “O Apanhador no Campo de Centeio”, de J. D. Salinger.
Tom Stoppard – “In Our Time”, de Ernest Hemingway.
Cees Nooteboom – “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust.


Flip 2008
Mesa 19 - Livro de cabeceira - NATHAN ENGLANDER, CHIMAMANDA ADICHIE, NEIL GAIMAN, TOM STOPPARD, CINTIA MOSCOVICH, CEES NOOTEBOOM, ALESSANDRO BARICO, ZOË HELLER
Mediador: ÁNGEL GURRÍA-QUINTANA

Wisnik e Damatta

Nunca pensei o futebol como um fenômeno social. Foi realmente uma surpresa. Wisnik e Damatta, com abordagens e estilos distintos, deram novos contornos para o tema. Mesmo para quem não gosta de futebol, como eu, a reflexão foi realmente instigante.

A idéia do futebol como um mundo paralelo, em que existem regras, que valem para todos e são respeitadas, ao contrário do nosso Mundo-Brasil, é interessante. No futebol, em certa medida, a desigualdade social seria superada e haveria um senso comum de justiça: as transgressões seriam punidas.

Também a visão do futebol inserido em determinado período da história foi novidade para mim. Sua chegada ao Brasil como algo ‘alienígena’, uma espécie de estrangeirismo, e o processo de assimilação e de transformação dessa novidade em algo que, acreditamos hoje, genuinamente ‘brasileiro’.

A eloqüência de Wisnik e a lucidez do seu discurso, apesar da dificuldade de ir direto ao ponto, e o humor sério e um tanto cínico de Damatta, combinados, funcionaram bem. Muito bem. Quanto ao mediador, Matthew Shirts, este deixou o barco correr.

Nunca mais vou pensar em futebol da mesma maneira.

Flip 2008
Mesa 17 - Folha seca - JOSÉ MIGUEL WISNIK, ROBERTO DAMATTA
Dia 06/07, às 11h45
Mediador: MATTHEW SHIRTS

domingo, 6 de julho de 2008

Tom Stoppard

Eu já sabia que o Luis Fernando Veríssimo era tímido, mas, ainda assim, a timidez dele me surpreendeu. Veríssimo L-E-U suas perguntas. Engraçado, não? Claro que ele é ótimo e, mesmo lendo, é um prazer ouvi-lo. Mas houve certo estranhamento. Como não poderia deixar de ser, as perguntas do Veríssimo carregavam uma boa dose de humor. Não de um humor qualquer, mas do humor do Veríssimo, com o qual Stoppard – a estrela da mesa – não estava familiarizado (ele confessou ter lido – e gostado de – um livro do Veríssimo na noite anterior pela primeira vez).

Enfim, Veríssimo provocou, Stoppard não entendeu e, simplesmente, respondeu a pergunta. Foi um pouco frustrante. Daí pra frente, Veríssimo optou por seguir o caminho mais seguro e fazer perguntas convencionais, de forma convencional. Ou seja, a conversa não esquentou.

Acho que teria sido melhor se Veríssimo fosse mais um convidado, ao lado de Stoppard, e que uma terceira pessoa tivesse sido escolhida como mediadora.

Mas, ainda assim, valeu a pena. Pra mim, que não conhecia absolutamente nada sobre Stoppard, ficou a vontade de conhecer melhor o trabalho dele. Principalmente depois de ele chamar a atenção para uma distinção que eu achei ótima: a diferença entre "categoria" – na verdade, essa palavra não me parece muito adequada, mas, por hora, não tenho outra – e qualidade.

Segundo ele, o que importa é a qualidade. E você pode encontrá-la em qualquer categoria - num texto literário ou numa revista de fofocas. Ou seja, falando de diálogos do cinema ou do teatro, especialidade de Stoppard, a frase perfeita pode ser encontrada tanto num filme do Indiana Jones como num texto de Shakespeare.

Adorei ouvir isso.

Flip 2008
Mesa 15 - Shakespeare, utopia e rock’n’roll - TOM STOPPARD
Dia 05/07, às 19h
Mediador: Luis Fernando Veríssimo

Nooteboom e Vallejo

Desculpem, mas o destaque da mesa foi mesmo o mediador, Ángel Gurría-Quintana. Ao contrário da grande maioria dos mediadores da Flip, esse, sim, sabia o que estava fazendo. Conhecia a função. E a desempenhou muito bem.

Vallejo não estava pra conversa. Só repetiu o discurso que já havia sido notícia dos jornais da véspera e do dia. Mas, ainda assim, Ángel conseguiu tirar alguma coisa dali. A impressão final de Fernando Vallejo foi a de alguém tímido, que parecia estar ali a contragosto. Mas, pela leitura que fez de trecho de um livro seu, deu vontade de conhecer melhor o trabalho dele.

Na verdade, essa mesa foi muito bem composta. Nooteboom fez o contraponto perfeito a Vallejo. Saiu-se bem de qualquer tentativa de provocação e conseguiu falar do seu trabalho. Isso sem falar que ele é a simpatia em pessoa.

Flip 2008
Mesa 14 - Paraíso perdido - CEES NOOTEBOOM, FERNANDO VALLEJO
Dia 05/07, às 17h00
Mediador: ÁNGEL GURRÍA-QUINTANA

Baricco e Calligaris

Confesso que já fui predisposta a gostar, mas são ambos ótimos mesmo. O tema da mesa não passou de ficção, como em quase todas as outras. Mas isso é mera observação, apenas uma curiosidade, afinal estávamos todos lá pelos palestrantes, e não pelo tema em pauta.

A frase do dia foi de Calligaris ao falar da importância das raízes, mas de raízes como as das bromélias, que crescem ao ar livre.


Flip 2008
Mesa 13 - Fábulas italianas - ALESSANDRO BARICCO, CONTARDO CALLIGARIS
Dia 05/07, às 15h00
Mediador: MANUEL DA COSTA PINTO

Gaiman e Price

Neil Gaiman é o mais conhecido por aqui, por conta de Sandman, e pagou um bom preço por isso: passou horas autografando seus livros. Muito paciente e simpático.

A conversa foi boa. Gaiman e Price falaram sobre seus respectivos trabalhos como roteiristas e da difícil negociação com produtores de cinema.

Foi bom também conhecer um pouco mais do trabalho de Gaiman, inclusive como autor de livros infantis.

Flip 2008
Mesa 12 - A mão e a luva - NEIL GAIMAN, RICHARD PRICE
Dia 05/07, às 11h45
Mediador: MARCELO TAS

Adichie e Pepetela

Chimamanda Ngozi Adichie é uma escritora nigeriana. Bastante jovem. Fala do seu trabalho com uma naturalidade que impressiona. E, com o pouco fala, desperta minha curiosidade. O título é ótimo “Meio sol amarelo”. O tema, a guerra em Biafra. Mas o olhar da escritora sobre o tema é o que mais desperta meu interesse.

Pepetela já é escritor consagrado, embora eu ainda não conheça o trabalho dele. Fala de sua vivência como guerrilheiro. É difícil associar a sua figura pacífica a um cenário de guerra. Um escritor guerrilheiro de corpo fechado, mas de alma aberta, como ele faz questão de lembrar.

Flip 2008
Mesa 11 - Guerra e paz - CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE, PEPETELA
Dia 05/07, às 10h00
Mediador: JOSÉ EDUARDO AGUALUSA

Martín Kohan, Nathan Englander e Vitor Ramil

O argentino parecia americano e o americano parecia argentino. Para piorar, o livro do americano é ambientado em Buenos Aires. Mas o que importa mesmo é que ambas as leituras, de Kohan e Englander, foram boas. Apesar do tema que perpassa ambos os livros – a ditadura argentina – não me agradar em tese, fiquei com vontade de conhecer o trabalho deles.

O trabalho de Vitor Ramil é que define o título da mesa, melhor dizer “rótulo”, mas não parece guardar uma relação muito próxima com Kohan e Englander.

Flip 2008
Mesa 9 - Estética do frio - MARTÍN KOHAN, NATHAN ENGLANDER, VITOR RAMIL
Dia 04/07, às 17h00
Mediador: SAMUEL TITAN JR.

Noll e Martell

Ganhou a Lucrecia Martell com seu jeito espontâneo e o seu cinema “natural”, dado, e não construído, perseguido, buscado. É como se o cinema tivesse corrido atrás dela, ido buscá-la, e não o contrário. Definitivamente, quero assistir “O Pântano”, “A Menina Santa” e “A mulher sem cabeça”.

Noll é um tanto excêntrico demais para despertar afinidades. Já me deu um susto quando começou a leitura de um trecho dos seus livros, fazendo uma voz esquisita, lendo arrastado, como se estivesse incorporando um personagem. Uma pessoa idosa ou doente. Não estava, pois leu do mesmíssimo jeito um outro trecho de um segundo texto seu, cujo narrador era um menino. Mas gostei de ambos os trabalhos. Ou seja, os livros dele devem ser muito mais interessantes do que sua fala. O que faz todo sentido, afinal ele é escritor.

Flip 2008
Mesa7 - Ficções - JOÃO GILBERTO NOLL, LUCRECIA MARTEL
Dia 04/07, às 11h45
Mediador: SAMUEL TITAN JR.

Schultze, Carone e Naves

Ingo Schultze é simpático e aparentemente despretensioso. Fiquei com vontade de conhecer melhor o trabalho desse escritor alemão. Modesto Carone e Rodrigo Naves destacam-se como críticos, mas estavam ali para apresentarem seus trabalhos como escritores.

Os perfis dos componentes da mesa eram extremamente desiguais, o que prejudicou um pouco a fluência da conversa.

Flip 2008
Mesa 6 - Formas breves - INGO SCHULZE, MODESTO CARONE, RODRIGO NAVES
Dia 04/07, às 10h00
Mediador: CARLOS AUGUSTO CALIL

sábado, 5 de julho de 2008

Cíntia Moscovich, Zoë Heller e Inês Pedrosa

Ótimas. Leram trechos de seus livros, que pareceram muito interessantes. Mas, no discurso, no debate, Inês se destaca. Tem muita experiência nisso. Traquejo. É dura. Assertiva. Perspicaz. Incisiva. A aparência mais recolhida de início não dura muito. Ela gosta do debate.

A mesa foi ótima e o mais engraçado é que assisti por acidente. Comprei a entrada para uma amiga que chegaria no sábado. Mas o programa acabou sendo alterado e o debate aconteceu na quinta-feira.

Ainda conheci um outro autor português, José Luís Peixoto, que foi o mediador da mesa. Muito bom.


Flip 2008
Mesa 5 – Sexo, mentiras e videotape - CÍNTIA MOSCOVICH, INÊS PEDROSA, ZOË HELLER
Dia 03/07, às 19h
Mediador: José Luís Peixoto



Elizabeth Roudinesco

Uma história dos perversos ou “O lado obscuro de nós mesmos”. O tema, por si só, já era interessante. Na verdade, acho que nunca havia parado para pensar nisso.

Valeu a pena. Como tudo, a perversão também depende do contexto. Existe em contraponto a certa mentalidade histórica, ao comportamento ‘socialmente aceitável’, seja lá o que isso signifique.

Perversão não é fazer o mal, mas sim sentir prazer com isso. Distinção importante, feita por Roudinesco. Mas o melhor mesmo está no título – o lado obscuro de nós mesmos –, ou seja, somos todos perversos, o que não deixa de ser verdade.

Em vez de ler um discurso, falou com a platéia. Ótimo. Não gosto de quem só fica ali, lendo. É difícil prestar atenção.

Mas se perdeu ao tentar responder uma questão sobre o modo como ela tratou o terrorismo islâmico em seu livro. Acho engraçado isso de as pessoas fingirem que estão respondendo uma pergunta sem responder.

De resto, fiquei curiosa, com vontade de ler o livro dela, o que, em se tratando de mim, não quer dizer muita coisa. Mas acho pouco provável que eu conseguisse ler ele inteiro.

Flip 2008
Mesa 02 - O espelho - ELISABETH ROUDINESCO
Dia 03/07, às 11h45
Mediador: ELIANE ROBERT MORAES

Roberto Schwarz

Nunca mais ler um livro do mesmo jeito. O que é o livro? O que o autor planeja escrever, o que pensa que escreve, o que efetivamente escreve, o que os críticos dizem, o que eu leio, o que você lê. Quantas versões existem? Tantas versões quanto realidades. A realidade é assim também. Quem garante que o vermelho que eu vejo é o mesmo que você vê?

Tudo isso para falar do Schwartz. Parece tímido. Mal olha para o público. Desconfortável com aquela situação. Com todo aquele destaque. Mas apaixonado pelo seu tema.

No início, enquanto apenas lê o que trouxe escrito, fazendo pausas estratégicas para beber água e para que o público assimile seu discurso, ele parece mais tranqüilo, pois tem o domínio da situação. Depois que começa a falar, principalmente ao responder perguntas, ele parece mais real.

Tema: Machado de Assis. Especificamente Dom Casmurro.

Flip 2008
Mesa 1 – A poesia envenenada de Machado de Assis - ROBERTO SCHWARZ
Dia 02/07, às 19h – Conferência de Abertura
Mediador: Hélio Guimarães

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Estréia na Flip

Faz tempo queria vir. Na verdade, desde que ouvi falar da festa, já em sua primeira edição. Está na sexta. Passar cinco dias falando e ouvindo falar sobre livros, no meio de pessoas que se interessam por esse mesmo tema. A velha história do “gente como a gente”. Não sei se isso é verdade, mas já estava na hora de tirar isso a limpo.

Bom, estou aqui e estou gostando.

Viva Einstein!

Controle. Engraçado essa necessidade que a gente tem de controlar tudo, ou de achar que controla. Ou, pior, achar que tem que controlar. Para quê?

Não, nem adianta perder tempo tentando responder essa pergunta. Só valeria a pena saber qual seria a utilidade de se ter controle sobre tudo se isso fosse possível. Não é. Esse controle é impraticável.

Ainda assim, não consigo me livrar dessa idéia. É como se eu vivesse unicamente sob as leis de Newton, mesmo depois da teoria da relatividade.

Bom, resolvi tentar. Pelo menos com esse blog. Declaro, finalmente, a extinção das regras.

Não há mais regras para temas, para a extensão dos textos, para a linguagem, para a periodicidade das postagens, para nada.

Quem viver, lerá!