segunda-feira, 23 de março de 2009

Seoul


Para o livro dos recordes
Entrei no táxi às 15h02. Cheguei ao aeroporto às 15h45. Às 15h58 já havia passado pelo check-in e pela Polícia Federal e estava sentada em frente a um Café Havanna.

Torre de Babel
Não consigo identificar todas as línguas. Mas sei que são distintas. Em vozes e timbres diferentes, paisagens distantes. Visões. O que faz um homem? A geografia do seu país ou sua geografia genética? As histórias que lhe contam? As paisagens que vê? As palavras que escuta? As que fala? O ar que respira? A comida que ingere? Os cheiros que aspira? As lágrimas que produz ou que provoca? O amor que dá? O que recebe? O que faz de nós o que somos? Os amigos que perdermos? Ou simplesmente os amigos? E ainda não saí do aeroporto de Guarulhos.

Portugal
Acabam de chamar os passageiros TAP com destino a Portugal. Pensei em embarcar.

De São Paulo a Frankfurt
Espremida entre dois homens. Um português, de Goa, e um brasileiro. Obviamente, quem me deu atenção e conversou comigo foi o português. A viagem foi tão desconfortável que, a cada movimento de um, os outros dois também se moviam mesmo sem querer. Levantar para ir ao banheiro também exigia prévio acordo tácito. E sincronia. Íamos todos “juntos”. Por sorte, havia quatro cabines.

Ridículo
O vídeo da companhia aérea mostrando ao passageiro como ele pode – e deve – se alongar em sua poltrona respeitando o cubículo que lhe cabe dentro daquela aeronave. Além de mim, nenhum outro passageiro demonstra ter ciência do que se passa na tela.

Frankfurt
O aeroporto parece ainda maior do que eu lembrava. Chego de manhã, alguns minutos antes do horário, sob um céu cinza, mas com sol. É bom ouvir o português de quando em quando, perdido, nos corredores do aeroporto alemão. Parto no final da tarde, alguns minutos depois do horário, sob um céu quase azul.

De Frankfurt a Seoul
Apesar da loucura desta viagem, gosto de estar aqui. Já passei sobre Portugal, na primeira etapa, agora sobrevoo Moscou e região. Posso ver as luzes das cidades, seus desenhos. Com algum esforço, posso até ouvir a respiração de todos que dormem lá embaixo. Onde estarei no ano que vem? Ou melhor, onde quero estar? Estamos sobre a África. É noite. O céu está estrelado. As nuvens desabaram no chão. Faz muito frio lá fora. Acho que nunca estive tão perto das estrelas.

Crianças: Hoje, quando acordei e abri a janela, tomei um susto. O céu estava de um azul bem limpinho, mas o chão era feito só de nuvens. E eu viajava na direção do sol. Mas ainda havia uma meia lua branca quase fosforescente, que foi perdendo o brilho e ganhando transparência. Até sumir de vez e deixar o dia começar.

Seoul
Seoul está escondida entre as nuvens. Minutos antes de aterrissar, só o que posso ver pelaa janela é uma luminosidade excessiva antes de mergulharmos nas nuvens. Em seguida, o avião alcança o chão. Estou no Incheon, o aeroporto de Seoul. Não faz tanto frio. Do aeroporto ao hotel é possível ter um panorama da cidade. Enevoada e cinza. Rodovias suspensas sobre as águas – ou melhor, sobre o leito agora quase seco das águas – correm lado a lado. Árvores secas, sem folhas. Florestas inteiras fingem-se de mortas. Dentro da cidade, as avenidas são enormes e largas. A elas convergem ruelas estreitas e sinuosas. Deve ser muito fácil se perder por aqui.

Noite em Seoul
A noite é mais colorida que o dia. As nuvens se dissiparam. A escuridão do céu é iluminada pelos coloridos letreiros da cidade. E são infinitos. Indecifráveis.

Hotel
Sempre que chego, o rádio está ligado e sintonizado num canal de música clássica. O som é suave e em baixo volume. Aos poucos, o quarto vai sendo adaptado a mim. A garrafa de água passa da pia do banheiro para o criado-mudo, onde costumo deixar as garrafas vazias. O número de travesseiros da cama diminui para atender o meu gosto. Pequenos detalhes. Mas fazem com que eu me sinta notada. E bem-vinda.

A síndrome do ar condicionado
Como no Brasil. Mas ao contrário. Onde quer que você vá, passa-se calor. O ar condicionado é regulado para aquecer o ambiente. Mas aquece demais. É preciso usar blusa sem manga debaixo de um grande casaco de lã.

Is it your first time in Ásia?
Pode apostar. E é só nesse instante que tenho a idéia exata de onde estou, afinal. Do outro lado do mundo. Como foi mesmo que cheguei aqui?

Insegurança
Impossível reconhecer uma palavra. Uma placa de trânsito ou direção. O cenário urbano, caótico e colorido, também não ajuda a individualização de um prédio ou de uma esquina. A primeira impressão que se tem é de impotência. Parece que você nunca será capaz de andar sozinha pela cidade.

Viagem no tempo
Estamos 12 horas à frente do Brasil. Quando a quinta-feira acaba por aqui, começa por lá. Estranho, mas divertido.

Seoul com sol
As nuvens se dissiparam. Hoje faz um belo dia frio de sol forte. Nada de chuva. Ideal para um passeio. As placas indecifráveis, enfim, entregam suas pistas: números. O metrô é a chave da porta da rua.

Gyeongbokgung Palace
Um enorme conjunto de prédios. Dentro da cidade. As primeiras construções são de 1395. Gyeongbokgung significa “Palácio abençoado pelo Paraíso”. Você se perde entre uma e outra passagem. Parece não ter fim. Em todas as construções, delicadas pinturas enfeitam o teto de madeira recortado feito renda. Figuras de animais se espalham sobre os telhados. Mas não são animais ameaçadores. Parecem personagens de histórias infantis. Emoldurando o cenário, montanhas, parques e prédios. A cidade que se espalha e envolve esse pedaço de história.










The Folk Museum
Ao lado de Gyeongbokgung. Parte do conjunto. Conta a história do povo, da formação do estado. Seus costumes, sua cultura. Vale a visita.

Paris
Vi Paris pela primeira vez. Da janela do avião. Por acaso. Eu me distraía vendo as luzinhas lá embaixo. O contorno de cidades distantes. De repente, tropecei nessa cidade enorme. Chamou minha atenção sua geometria. Então vi a torre iluminada. Inconfundível. Se, na minha viagem de ida, pensei em embarcar para Lisboa, na volta, quis descer em Paris.

terça-feira, 17 de março de 2009

A menina que roubava livros

Eu fatalmente leria esse livro pelo título. Mas, antes, o que me atraiu a ele foi a capa. O branco, o negro, o vermelho. A morte.

A morte como narradora. A morte conduzindo a vida. Descortinando a história de uma menina. Uma sociedade inteira. Uma época.

Os personagens são doces e bons. A crueldade corre por conta de certa humanidade indistinta. Os personagens que a representam não são reais. Não convencem. Servem de contraponto à bondade. De escada para o artista principal ganhar a cena.

Mas, apesar do maniqueísmo, ou por causa dele, a narrativa encanta e corre à sua frente, obrigando a leitura, abusando do fôlego.

A miséria, o sofrimento, a dor, a perda, a injustiça, o ódio, embora presentes, passam por um processo de ‘pasteurização’. Estão ali, explicitados, mas travestidos de forma a não pesar no seu estômago. Você engole sem se dar conta. Mas será preciso digerir depois.

Um livro delicioso de se ler.

Ficha Técnica: “A menina que roubava livros”, de Markus Zusak, Editora Intrínseca.

sábado, 14 de março de 2009

As baratas e a justiça

Num flagrante caso de desrespeito à justiça, elas invadiram os 18 andares do prédio do tribunal.
Enfurecidas, estão destruindo pilhas e pilhas de papéis amarelados e embolorados. Disputam espaço com as traças e evitam embate direto com os ratos.

Teses primorosas, verdadeiros tratados de doutrina, ameaçam sucumbir face à sanha destrutiva desse exército implacável.

O conhecimento acumulado por doutos e ilustres cérebros, o registro do trabalho árduo de anos de esforço insano, estão prestes a desaparecer. Não devorados pelo tempo, como era de se esperar, mas pelas baratas.

Esses insetos rasteiros e asquerosos parecem ter desistido de conquistar o mundo via hecatombe nuclear – da qual, dizem os especialistas, eles serão os únicas sobreviventes. Resolveram partir para a ação. Querem destruir o mundo pelo estômago. Sua estratégia maligna foi destruir pela saliva a nossa mais cara instituição.

A humanidade, em alerta, promete resistir. Um plano de dedetização em massa está em andamento, mas o que pode o homem contra as baratas?

sexta-feira, 13 de março de 2009

Milton Hatoum no SESC Pinheiros

Foi ontem, às 20h. Depois de enfrentar um trânsito infernal: quase uma hora e meia para ir do Paraíso a Pinheiros. Cheguei atrasada, mas junto com Milton Hatoum. O bate-papo foi ótimo. Aparentemente, havia muitos amigos do autor por lá, o que o deixou visivelmente mais tranquilo.

Hatoum é simpático, não exatamente extrovertido. Respondeu as perguntas com alguma cautela – coisa de escritor experiente, imagino. Como sempre, o auditório não estava lotado, mas o público presente era só atenção.

Em pauta, a relação entre conto e romance, a dificuldade de se trabalhar por encomenda (referência direta à novela “Órfãos do Eldorado”), o ofício de escrever e um vislumbre da história do próprio autor em suas andanças por Manaus, São Paulo, Paris, Barcelona, EUA.

Destaque para o lançamento do seu novo livro, o primeiro de contos e o pretexto para esse bate-papo: “A Cidade Ilhada”. Hatoum falou de cada um deles, indicando datas, relações com fatos reais, situando o leitor, pontuando histórias.

Sobre a platéia: As perguntas foram interessantes, mas impossível deixar de notar, na impostação da voz e na gesticulação de um e outro, uma preocupação exagerada em demonstrar conhecimento e impressionar o convidado. Manifestações explícitas de vaidade. Humano e um tanto constrangedor.

Projeto “Autores & Idéias”, da Livraria da Vila

Na Livraria da Vila do Shopping Cidade Jardim, o jornalista Thales Guaracy entrevistará alguns autores brasileiros. Das 19h30 às 21h00. Veja o calendário:

16/03 – Valcyr Carrasco

20/04 – Marília Gabriela

18/05 – Laurentino Gomes

16/06 – Milton Hatoum

20/07 – Marçal Aquino

quinta-feira, 12 de março de 2009

Último Dia


Café da manhã no Armazém do Café, ao lado da Praça Nossa Senhora da Paz, que ocupa um grande quarteirão da Visconde de Pirajá, em Ipanema. Na praça, mulheres empurram carrinhos de bebês e grupos de idosos de reúnem aqui e ali.

Uma rápida visita à Toca do Vinícius - dá vontade de sentar ali e ficar à toa, só ouvindo música - e uma caminhada pela praia.

Um último café na Doce Delícia, acompanhado, é claro, do jornal "O Globo".

E já está na hora de fechar a mala e descer, mais uma vez, os 68 degraus que levam da cobertura ao térreo. Mas, antes, uma última parada na sacada para me despedir da lagoa.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Sexto Dia


Café

Dessa vez, no Mil Frutas. E graças à solicitude da atendendente, pois eles só servem café nos finais de semana. Um iogurte com mel e granola especialmente bom, lendo "O Globo". De lá, uma rápida passagem pela Casa do Saber - só para verificar se haveria um café e pegar a programação do semestre pra passar vontade - e uma espiadinha na Lagoa, sempre brilhante, mesmo nos dias nublados.

Outra vez o centro

Agora para visitar a Biblioteca Nacional e o Museu Nacional de Belas Artes. De brinde, ainda conheci o Centro Cultural da Justiça Federal, que, definitivamente, vale a visita, e tomei sorvete no café do Cine Odeon, além de xeretar a livraria - pequena, mas de bom gosto. Todos os prédios são lindos. Somem-se a estes o Teatro Municipal e a Câmara dos Vereadores, todos voltados para uma mesma praça. Gostaria de saber a história de cada um deles. Da Biblioteca Nacional, sei que foi inaugurada em 29 de outubro de 1910, que o engenheiro responsável pelo projeto, Souza Aguiar, dá nome a um grande hospital carioca, que guarda 3 milhões de obras e recebe diariamente mais 150 para catalogação. Suas portas com relevos vieram da Alemanha. Os corrimãos das escadas, da Inglaterra. E os vitrais, da França. Logo na entrada, duas enormes telas chamam a atenção. À direita, a "Sabedoria". À esquerda, a "Ignorância". Ambas pintadas por George Biddle, artista americano. Abaixo de cada uma delas, os relevos elaborados por sua esposa, Hellen Biddle. Outra história interessante: o acervo original da biblioteca, trazido por D. João VI, representa o que pôde ser salvo do incêndio que destruiu a Biblioteca de Lisboa, no século XVIII. O prédio do Museu Nacional de Belas Artes também merece atenção. São tantos detalhes que é impossível absorver tudo numa primeira visita.
Forneria São Sebastião
Lugar agradável, mas caberia em São Paulo sem esforço. (Na verdade, foi de lá que veio, como Forneria São Paulo.) Na mesa ao lado, um rapazinho de três anos, que atendia pelo nome de "Bolt", foi a atração do jantar.
O Beco do Rato
Mais um samba para encerrar a programação. Acreditem, o nome é mais do que apropriado. As pessoas se espalham entre o bar, a calçada e as ruas. Uma pilha de engradados de cerveja faz às vezes de muro de separação entre o "beco", literalmente, e a rua. Numa parede, a estátua de um enorme São Jorge combatendo seu dragão convive com uma Nossa Senhora Aparecida e um Cristo crucificado. Os casarões vizinhos são lindos, deteriorados e sujos. Ruas estreitas, de pedras irregulares. Lembram Paraty. Público: povo + gringos descolados. Roda de samba entre amigos. Divertido e acolhedor.
Saldo do dia: 544 degraus e uma coleção de prédios enormes ao redor de uma praça.



Galeria de Fotos

Hall de entrada da Biblioteca Nacional

Museu Nacional de Belas Artes - Ao centro, réplica da "Vitória de Samotrácia"

Quinto Dia


Manhã

Suco no Pólis, fingindo ser carioca, e café completo - por engano - no Alessandro e Frederico. No RJ, não há meio termo: ou você toma um cafezinho básico, em pé, no balcão, ou um café suntuoso, num lugar bonito e com ar condicionado.

Outeiro da Glória

Tentativa frustrada de conhecer a igreja. Teleférico fechado. Ninguém soube me explicar por que motivo.

Real Gabinete Português de Leitura

Apesar do calor, caminhar no centro do rio é divertido. A arquitetura é o máximo. Uma profusão de cores, materiais, relevos, vitrais. Em cada rua, uma supresa - ou várias. O predio do Real Gabinete Português de Leitura é "over", tavez por isso ainda mais interessante. A biblioteca é de tirar o fôlego com seus móveis de madeira escura, entalhes, detalhes. Em destaque, o IV Centenário do Padre Antonio Vieira. Localização: Rua Luis de Camões, em ferente à Praça Alexander Herculano. Perfeito, não?

Confeitaria Colombo

É impossível andar pelo Rio de Janeiro sem pensar no tempo. Sentar numa mesa da Confeitaria Colombo, fundada em 1894, e não imaginar como seria esse salão há 100 anos. Ou melhor, quem estaria sentado aqui, pois o salão parece ser exatamente o mesmo. É isso que evoca uma espécie de nostalgia de um passado não vivido. O piso de ladrilho hidráulico, de onde terá vindo? Como? E as enorme vitrines que ocupam paredes inteiras? Madeira e vidro. Testemunhas de um tempo que não existe mais e que eu nunca saberei como foi, pois a história contada não é a história vivida. Resta a história inventada. Lembranças nada mais são que invenções. Mentiras quase perfeitas pois iludem até mesmo seu autor. Que língua falam essas estantes? Francês, inglês, português? Que mãos alisaram as curvas da madeira, lixaram, poliram, enceraram? Quais são suas histórias? E os espelhos? Acho que nunca vi tão grandes. Portais para um outro mundo? Não, para uma outra época. O público daqui é não combina com o lugar. Shorts, camisetas, chinelos, bonés e máquinas fotográficas. Os móveis nos recebem constrangidos.

Livraria da Travessa

A terceira que conheço. Minha velha conhecida é a de Ipanema. Depois visitei a do Centro Cultural do Banco do Brasil. Esta fica na travessa do Ouvidor. Tem um café grande e uma papelaria bem bonita ao lado, com acesso pela livraria. Sinto falta de poltronas para sentar e ler alguma coisa. Há algum espaço para isso, mas não o suficiente. E nada tão convidativo como as poltronas e cadeiras da Livraria Cultura ou da Livraria da Vila. Mas, no geral, as livrarias da Travessa me parecem muito boas.

Praia

Fim de tarde na praia de Ipanema. Ainda bem movimentada, apesar do sol já ter desertado. Fiquei tempo suficiente para uma abordagem tipicamente carioca: o ser surge do nada, puxa um papinho, convida para um chope e vai embora. Gosto da falta de cerimônia do Rio.

Noite

Sushi Leblon, finalmente. Não havia espera para o balcão. Ambiente bonito. Gente bonita. Um macarrão delicioso, com curry, côco e frutos do mar. Depois um café na calçada, no Armazém do Café, e uma caminhada do Leblon até Ipanema para encerrar a noite.

Saldo do dia: 408 degraus, um gabinete de leitura, um café de fim de noite.

Galeria de Fotos


Confeitaria Colombo - Centro



Real Gabinete Português de Leitura


domingo, 8 de março de 2009

Quarto Dia


Café da Manhã

No Parque Lage. Minha segunda vez por lá. Estreei aos 14 anos. Volto, portanto, 22 anos depois. Na minha fraca lembrança, era um lugar pequeno. Na verdade, só guardei a construção. Omiti da memória todo o entorno. O lugar é enorme. Como sempre aqui no RJ, a vegetação é exuberante. O casarão abrigou uma família um dia: um armador e sua esposa, uma cantora lírica. A casa se distribui em torno de um átrio dominado por uma piscina de pedra. Não sei bem por que, mas aquilo me pareceu um viveiro de sereias. Talvez seja o efeito daquela casa de pedra cercada pela floresta, cercada por ruas, carros e pessoas, cercada pelo Rio de Janeiro.

Museu da Chácara do Céu

A visita, que não aconteceu ontem, realizou-se hoje. Infelizmente, o museu não tem ar condicionado, o que prejudica bastante a visita. É preciso muita vontade e disposição para ficar dentro daquela casa - tão bonita - transpirando e sufocando. E há muito para ver. Pena que os jardins não sejam muito bem cuidados. A vista, mais uma vez, é linda.

Mais uma vez o Parque das Ruínas

O Museu da Chácara do Céu e o Parque das Ruínas estão interligados. Aproveitamos para explorar melhor as ruínas. Lá de cima, a vista é o máximo. Nos ouvidos, só o assobio do vento. Mar azul. O Rio de Janeiro e Niterói se espalhando sobre ele.

Museu Histórico Nacional

É lindo e enorme. O prédio já é um convite. Cansei de tanto andar por ali. Isso porque uma parte da área de exposições está fechada par obras. O guarda que toma conta da primeira exposição se preocupa em receber cada visitante. Oferece informações antes mesmo de ser consultado. Fala com orgulho do museu. Faz você se sentir feliz por estar ali. História e cultura indígenas. Portugal. Carruagens. O Brasil que nasce e se desenvolve - ao seu tempo e da sua maneira. Está tudo ali. Y Juca Pirama. Caramuru. Cecília Meirelle, numa poesia sobre a exploração do ouro. Canhões. Pena que a varanda, no primeira pavilhão, estava fechada ao público.

Centro Cultural Banco do Brasil

Há tempos que conhecer. Diziam que o prédio era maravilhoso. É lindo mesmo. Um espaço enorme dedicado às artes. O máximo. Uma livraria (da Travessa) e um restaurante. Muitas pessoas por lá. Como já era tarde, não deu para visitar as exposições. Mas conhecer esse espaço já valeu o passeio.

Centro Cultural dos Correios

Achado quase que por acaso. Outro espaço que vale a pena visitar. Fomos surpreendidas por uma exposição de esculturas. Oxana Narozniak. Figuras femininas de perfil alongado. Braços e pernas compridos feito cipós. Movimentos elásticos. Gostaria de voltar lá para dar mais atenção a cada peça.

Noite

Na Letras e Expressões de Ipanema. Blogando e tentando tomar um café espresso decente. Apesar das inúmeras tentativas, mais uma vez não fui bem sucedida.

Saldo do dia: 272 degraus e o Rio de Janeiro visto quase do céu.

Galeria de Fotos


Museu Histórico Nacional - Carruagens



Museu da Chácara do Céu


Vista do Museu da Chácara do Céu

Parque Lage



Terceiro Dia


Uma rua perdida

A primeira tentativa foi o Café Gôndola, às margens da lagoa. Por sorte, quando chegamos não havia mais café. A segunda tentativa foi a busca de uma rua perdida - General Garzon - e encontrada por um taxista mais do que experiente: Rio de Janeiro, Argentina, Chile, Europa - Leste, inclusive.

Escola de pães

Creme de mamão - só a fruta e mais nada - com granola. Curau de milho. Iogurte com frutas tropicais. Suco de laranja. Ovos mexidos - não sabia que ovos poderiam ter aquela consistência. Mini sanduíches - misto de peito de peru com queijo, cachorro quente e brie com damasco. Cesta de pães acompanhada por um pote de queijos gratinados. Manteiga, cottage, geléia e goibada mole. Café com leite, claro. Bolo de chocolate com cobertura. Bolo de limão. Sonho. Bomba de creme - na forma de uma rosquinha crocante. Waffle de coração. Um casarão antigo. A atenção de uma senhora que vai de mesa em mesa cuidando dos seus cliente. Um garçom educado e solícito que, depois de ser chamado pelo nome, passa a ser um garçom educado, solícito e risonho. Carérrimo!Mas uma delícia.

Santa 1

Estou ampliando meus domínios. Gávea, Urca e Santa Tereza. Somam-se a Copacabana, Leme, Ipanema, Leblon, Jardim Botânico, Lapa e Botafogo. Santa Tereza é um bairro de ladeiras íngremes que parece aprisionar o tempo em suas ruas. A lembrança de um Rio antigo. Lindos casarões despedaçados. Algumas lojinhas de artesanato. Muitos restaurantes e botecos. O bondinho. A vista.

Santa 2

Uma decepção: o Largo das Letras. Infelizmente, muito mal cuidado. Uma descoberta: o Parque das Ruínas e o Museu da Chácara do Céu.

Santa 3

Café no Ásia. Café e restaurante. Bonito, bem cuidado. Decoração rica e agradável. Pela janela, numa grande árvore enfeitada com lanternas japonesas vermelhas, três miquinhos corriam para cima e para baixo.

Santa 4

O Museu da Chácara do Céu já estava fechado (mas, um lugar com esse nome, definivamente merece uma visita). O parque estava aberto. As ruínas são o que sobrou do palacete de Laurinda Santos Lobo, a "Marechala da Elegância", no dizer do João do Rio. A vista: Pão de Açúcar, Arcos da Lapa e a Bahia da Guanabara. O lugar é deslumbrante. Não dá vontade de ir embora. No pátio, quatro bancos de mármore. Sobre os bancos, frases assombradas que aparecem e desaparecem diante dos seus olhos conforme a incidência da luz.

"O início da guerra será secreto"

"Proteja-me do que eu quero"

"Seja gentil e amável sempre que puder"

"Os homens não te protegem mais"

Gostaria de conhecer a autoria.

Fim de tarde

No jardim do Market Ipanema. Suco de manga com gengibre e uma salada de verdade. Dentro do salão, a TV alterna desenhos do Popeye e da Betty Boop, em preto e branco.

Noite

Bar da Praia. Bonito. Deliciosos bolinhos de risoto - versão sofisticada (e melhorada, reconheço!) do bom e velho bolinho de arroz - com molho de pimento e pesto de manjericão. Apesar do nome, está mais para restaurante do que bar. Música especialmente boa. Na volta para casa, uma caminhada até o Jobi e um café - concorrido - na Letras e Expressões do Leblon.

Saldo do dia: 272 degraus, uma árvore com lanternas vermelhas, as ruínas de um casarão perto do céu.

Galeria de Fotos



Vista do hotel Santa Tereza




Vista do Asia Café e Restaurante, em Santa Tereza - Miquinhos para a Marina




Vista do Parque das Ruínas



sábado, 7 de março de 2009

Segundo Dia


Manhã

Café da manhã carioca: pão na chapa e suco. Sorvete. Almoço no Líquido, me liquefazendo no calor espesso do final da manhã.

Instituto Moreira Salles

Minha primeira vez na Gávea. Um bairro bonito. Cheio de ladeiras. Meio agarrado ao morro, ameaçando subir e retrocedendo. Embrenhando-se no meio de uma floresta. Muito verde. Árvores enormes. Casas enormes. Mansões. O próprio IMS é uma atração em sim mesmo. Fiquei imaginando como seria viver num lugar daqueles. Espalhar migalhas de pão no chão da sala de estar. Pisar naqueles corredores com os pés molhados da piscina. Como seria a rotina de uma família vivendo ali? A mobília. Os cheiros. Hábitos.
Das exposições, a que mais me impressionou foi a do Otto Stupakoff. Fotógrafo. De tirar o fôlego.
Detalhe: apesar de haver outras pessoas circulando por lá, vi todas as exposições sozinha. Ou melhor, sem a presença de outros visitantes. Parecia que aquilo tudo estava ali só por minha causa. Gostei da sensação.

Um colecionador de pessoas

Otto Stupakoff é um colecionador de pessoas. Ele as captura com sua lente e as aprisiona num pedaço de papel. Ficam ali, imóveis e vivas para sempre. Sua técnica é perversa, quase sádica. Ele não as persegue e sim as hipnotiza. Elas são atraídas para frente da câmera. E se exibem. E mostram tudo o que têm para oferecer. Ele espera. Espera paciente. Até que a pobre alma se revela. Então vem o golpe. E a prisão. E lá estão elas. Presas, mas gloriosas. Aninhadas numa fissura do tempo-espaço. Um instante indeterminado e perdido. Mortos e imortalizados. Numa grande sala branca de ar gelado, olham para mim. De Saigon, Nova Iorque, Rio de Janeiro, não importa. Perdidos e encontrados. Mas completos, mesmo que por um único instante.

Samba na Lage

Minha estréia no samba carioca, mas especificamente no Samba Luzia. Com direito a oferta de aulas de dança gratuitas e uma aula prática no local. A chuva ameaçou atrapalhar o programa, mas logo desistiu. Às 4 da manhã, a única parte do meu corpo que parecia existir eram meus pés, que gritavam desesperadamente.

Saldo do dia: 408 degraus, um lugar especial e um fotógrafo.

Galeria de Fotos

Instituto Moreira Salles - RJ
Calango no IMS - Para o Bruno


Calanguinho no IMS - Para o Dudu

Instituto Moreira Salles - RJ



Instituto Moreira Salles - RJ



sexta-feira, 6 de março de 2009

Primeiro Dia


Aeroporto em São Paulo

Bom presságio: sorte. Encontrei o banheiro vazio. Quando saí, havia fila de espera.

Cris: Viajei em cima da asa. Lembrei de você. Havia uma faixa cinza pintada de lado a lado. Parecia uma miniatura de pista de decolagem. No centro, três letras: GOA. Goa = Índia = Portugal.

Almoço na Livraria da Travessa

Inveja mata: "meu estômago é uma azeitona". Frase ouvida da mesa ao lado. Proferida por uma moça - magra - como justificativa pela recusa de um suco de manga na hora do almoço. De acordo com ela, era o suco ou o almoço. E eu me esforçando para recusar a sobremesa. Recusei. Mas tive que tomar dois espressos prar compensar. Cafeína, meu único vício!

Happy Hour

Champanharia Ovelha Negra. É, não combina. O nome dou lugar não combina com champagne. Mas o lugar combina bem com o nome. Pequeno. Nenhuma mesa disponível. Impossível reservar uma. Garçom solícito: "Aviso vocês quando alguém pedir a conta, assim vocês já ficam, assim, ali do lado..." Dança das cadeiras.

Jantar

Sushi Leblon e Togu. Deixamos nossos nomes nas respectivas listas de espera. Acabamos jantando no Minimok. Boa opção. Minúsculo, mas bem gostoso. Para encerrar a noite: café e brigadeiro no Colher de Pau.

Saldo do dia: 340 degraus, 1/2 garrafa de chamapagne e 1 brigadeiro.

Galeria de Fotos





Vistas do apartamento da Ana, minha amiga mineira-paulista-carioca. Por que foi mesmo que ela resolveu seu mudar para o RJ?

quinta-feira, 5 de março de 2009

Férias no Rio – Contagem Regressiva - 1

Mala fechada. Passagens na bolsa. Chaves na mão. Muito sono. E o calor continua!

terça-feira, 3 de março de 2009

Férias no Rio – Contagem Regressiva - 2

Nada como se hospedar na casa de uma RP. Já saio de São Paulo com toda a programação definida. Com direito a múltiplas escolhas, descrição do programa e opções de horários...

segunda-feira, 2 de março de 2009

Férias no Rio - Contagem Regressiva - 3

Sol, calor e praia... Não, praia ainda não. Mas o sol e o calor são pra valer. Estou em fase de 'climatização', me preparando para o ecossistema carioca.

Dois irmãos

Uma história de família. Mais uma. E uma história de Manaus. Sempre. Este foi o segundo livro que li de Hatoum. O primeiro foi “Cinzas do Norte”.

Também em “Dois Irmãos” respira uma família que desaparece. Como a Cidade Flutuante. Como a Manaus daquela época. Nesse sentido, o tempo é elemento essencial.

E, de novo, o autor se vale de um personagem para contar sua história – a história dele, do autor. Com isso, ficamos reféns das impressões do narrador. Enxergamos apenas a superfície. Tentamos desvendar a natureza de cada um, tentamos descobrir. Mas Hatoum é parcimonioso nas revelações e assim mantém o leitor cativo até o final.

Entre os irmãos do título, uma história de ódio. Em todo o livro, não há um só momento de ternura, de amor entre eles. Dizem que entre o amor e o ódio há apenas um passo. Portanto, não devia surpreender uma história de ódio entre dois irmãos. Apesar disso, essa raiva onipresente é angustiante.

Ficha Técnica: “Dois Irmãos”, de Milton Hatoum, Editora Cia. das Letras.

Carnaval em família

Sei que carnaval e família não parecem combinar. Mas, o carnaval, neste ano, só serviu para batizar o feriado. Não vi nem desfile, nem fantasia. Nada de confete e serpentina. Só sossego.
Sei que sossego e família não parecem combinar. Pelo menos, não em minha casa. Somos uma família barulhenta, graças a deus.

Me dei conta de que há muito tempo não passava quatro dias assim, à toa, com todo mundo. Foi ótimo. Engraçado é que me deu uma espécie de nostalgia precoce. Senti falta daquilo que ainda tenho.

Não consegui evitar a sensação de que o tempo passa e transforma tudo. E todos. Destrói para construir e destruir de novo.

Culpa das minhas leituras, talvez. Passei o feriado lendo Milton Hatoum em mais uma história de famílias que desaparecem.

Fiquei um bom tempo debruçada na varanda. Vendo o tempo passar.