quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Segundo Piso

Adoro doces, especialmente torta de limão. Acompanhada de café, claro. Preto, forte e amargo. Combinação perfeita.

Uma vez por semana, eu me entrego a esse prazer. Verdadeiro ritual. Misturo o recheio azedo do limão com o marshmellow da cobertura. Guardo um pedacinho da massa para o bocado final, que tem de ser completo: massa, recheio e cobertura.

O Café fica no subsolo do Shopping. Do balcão, vê-se as escadas que levam ao térreo e o próprio piso do térreo.

Estava lá outro dia... Ah, esqueci de dizer que era segunda-feira! Comer torta de limão com café numa segunda-feira, dia mundial do mau-humor, deve significar alguma coisa. Ainda mais porque segunda-feira também é o dia mundial do (começo de) regime. Enfim, uma subversão!

Mas eu estava lá outro dia, concentrada no meu doce, quando chegou uma senhora. Arrumada, sem ser chique. Celular colado ao ouvido. Combinava um local de encontro com alguém.

“Eu estou aqui, naquele Café, aquele...” – parou um instante olhando ao redor, indecisa – “do segundo piso”. Virou-se para a moça atrás do balcão do Café que aguardava o desfecho da conversa para oferecer um cafezinho, quem sabe um doce também, àquela senhora. “Estamos no segundo piso?”, perguntou a mulher em busca de confirmação.

A mocinha titubeou. Mas decidiu-se tão rápido que mal deu pra notar sua hesitação. “É sim, primeiro piso” – disse, levantando a mão até a altura dos olhos e cortando o ar à sua frente quase na mesma linha do chão do piso térreo que ela entrevia dali mesmo, do balcão –, “segundo piso”, concluiu fazendo o mesmo movimento com a mão, mas, dessa vez, na linha da cintura, feliz por poder ajudar.

A essa altura, eu já estava quase me afogando na minha xícara de café, com vontade de rir.

Pensei em esclarecer a confusão. Mas a lógica da mocinha era tão cativante! Depois, sei que tenho o mau hábito de me intrometer na conversa dos outros. Mesmo para ajudar, não deixa de ser um mau hábito.

A moça atrás do balcão parecia feliz por estar ali, naquele lugar bonito, naquele café chique, naquele uniforme. Imaginei que talvez ela não estivesse acostumada com essa parafernália de prédio: 2º subsolo, 1º subsolo, térreo, térreo baixo, térreo alto, mezanino, 1º andar, 2º andar... e outras invencionices.

Como se o mundo dela e o do Shopping fossem dois, distintos. Um contraste enorme. E ela, feliz da vida. Pelo menos naquele instante. Essa tal sociedade que inventamos é tão esquisita!

Um comentário:

Anônimo disse...

Senhor Sarcosy, está solteiro Silvia, parece um bom partido,^
Você poderia escrever de um Café
em París. Que tal? Uh! Lá,lá.
Lucila