sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Cinzas do Norte

Já faz algum tempo que queria ler um livro do Milton Hatoum. Ganhei no Natal, porque pedi, mas só li agora. Cinzas do Norte se passa em Manaus e conta a história de duas famílias. Não que isso realmente importe.

O livro é ótimo. Os personagens são humanos, reais, bons e maus ao mesmo tempo. Você oscila a todo instante, ora simpatizando com um, ora com outro. E assim vai, nesse movimento de simpatias e antipatias, até que você acaba torcendo por todo mundo, mesmo sabendo que a história não pode ter um final lá muito feliz, afinal, como eu disse, os personagens são “reais” e, na vida real, não existem finais hollywoodianos.

Quem nos conta a história é Olavo, amigo de Mundo, o personagem central. Portanto, o narrador é também personagem. E personagem bastante tímido, pois pouco nos conta da sua vida, dos seus sentimentos, da sua história. Não se dá a devida importância. Ele é quase ninguém.

Além desse narrador, o autor usa o recurso das cartas para dar voz a um outro personagem, este sim bastante presente em todo o livro: Ranulfo, o tio de Olavo e candidato a pai “ilegítimo” de Mundo.

Manaus, mais do que cenário, é um personagem à parte. Triste e pobre. Sofrido. A decadência da cidade se confunde com a decadência da família de Mundo. Decadência emocional e financeira.

Desde as primeiras páginas, o autor já nos dá o tom trágico da história de Mundo. O permanente conflito entre ele e seu pai, Jano, que parece girar em torno das aspirações artísticas do menino não coincidirem com as ambições do pai. Mas, conhecendo Alícia, mãe de Mundo, dá para desconfiar de muitos outros motivos.

Existe algo de inexorável na história de Mundo. Não importa as inúmeras variações possíveis, não importa as várias versões do destino, a revelação de segredos. Tudo sempre terminaria do mesmo jeito. Para ele, nunca haveria redenção possível na relação pai e filho.

Uma história sem mocinhos ou bandidos. Mas, acima de tudo, uma história bem contada.

Ficha Técnica: “Cinzas do Norte”, de Milton Hatoum, São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

Nenhum comentário: