quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O cachorro

Chegaram em grupo. Uma mulher e dois homens. Um deles falava com sotaque, com certeza era “gringo” – e escrevo gringo sem nenhuma conotação pejorativa, muito pelo contrário! Era ele, o gringo – daqui pra frente sem aspas –, quem narrava o encontro; na verdade, uma viagem romântica com direito à lareira e fondue.

Tudo perfeito, não fosse o cachorro. Não que o gringo fosse um cachorro, claro que não! Não que a namorada do gringo tivesse se envolvido com um cachorro! Não. Pelo menos não com um de duas patas.

O problema era sim o cachorro dela, mas um bichinho de quatro patas mesmo, desses que late e baba por todo canto. O cão ficou em São Paulo enquanto o casal partiu para sua viagem romântica. Hospedado em um hotel. Não o casal – que ficou numa pousadinha – mas o cachorro. Esse sim foi para o hotel.

Parece que lá pelas tantas, no meio do jantar romântico, no restaurante de fondue, em frente à lareira, a namorada do gringo começou a ligar para o hotel do cachorro a cada meia hora só para saber se o bichinho estava bem. Entre uma ligação e outra, a moça retomava a conversa com o gringo, sempre falando do cachorro e de suas preocupações com o bem-estar do cãozinho.

Segundo declarações fidedignas do gringo, não há nada mais “broxante” do que isso.

Resumo da ópera: o fim de semana acabou não sendo tão romântico assim. E o relacionamento terminou. Não sei se por conta da mal-fadada viagem ou se por fatores alheios a ela.

Eu costumo tomar meu café bem devagarinho, aproveitando cada instante. Por isso deu tempo de ouvir a história toda, que nem foi tão longa assim. (Obviamente, eu omiti todos os detalhes que não me interessavam.)

Mas saí de lá pensando no quanto homens e mulheres são diferentes. Eu já fiquei imaginando se a garota não teria usado a história do cachorro para botar o gringo de escanteio, ou se o problema não era falta de assunto e a coitada teve que apelar para o cachorro, ou, ainda, se o cachorro de quatro patas não teria, afinal, só duas mesmo e ela estivesse curtindo a provocação de ligar para o “caso” na frente do “fixo” – puro descaramento!

O gringo, pelo jeito, não pensou em nada disso. Pôs logo a culpa do fracasso da viagem – e, quem sabe, por tabela, do relacionamento – na pobre moça – ou no cachorro, não tenho muita certeza –, e saiu ileso dessa história. Pelo menos perante os amigos. O que prova que algumas características são inatas ao ser humano do sexo masculino, independente de fronteiras. Enfim, é a verdadeira globalização do “eu não tive culpa” ou, em outra versão também muito apreciada: “mulher é mesmo um bicho esquisito”.

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