Romance de Atiq Rahimi, ganhador do Goncourt, em 2008. A história se passa no Afeganistão. Mais exatamente na sala da casa de uma família afegã, numa zona turbulenta que, aos poucos, é abandonada por seus antigos habitantes.
Um homem jaz, deitado rente ao chão, com uma bala na nuca. Ao seu lado, a mulher, a esposa. Ele em estado vegetativo, sem esboçar qualquer reação. Ela no limite da exaustão e da razão. E é esse o pretexto do autor para falar da vida em seu país. Em especial, da vida das mulheres.
A sensação de aprisionamento é permanente. Pela imobilidade da câmera do narrador, que não deixa o quarto. Pela inatividade do homem, que apenas respira. Pela impossibilidade de afastamento da mulher, que simplesmente não pode deixar o marido.
Em “Syngue Sabour“, viajamos para longe. Muda-se o cenário. As regras de conduta também. Assim como os preceitos religiosos e os valores de bem, mal, justiça, injustiça, certo, errado, moral, imoral. Mas a matéria-prima é sempre a mesma. O ser humano com todas as suas contradições.
Tente ler o livro sem o crivo da sua própria cultura. Tente imergir no mundo alheio. Tente descobrir como você agiria se aquele fosse o seu universo. De algum modo, acho que somos apenas versões de um mesmo tema.
A pedra-de-paciência, referida no título, é uma pedra mágica, capaz de absorver todas as lamúrias dos homens, todas as dores, todas as lágrimas, todos os medos. Até explodir, destruindo, com isso, tudo que ficou preso nela e libertando os homens de todo o mal.
Ficha técnica: “Syngué sabour – Pedra-de-paciência”, de Atiq Rahimi, Ed. Estação Liberdade (2008)
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