quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Quase bonito

Eu andava feliz porque tinha descoberto que conseguia ler no ônibus. Lá ia eu, todo santo dia, com um livrinho na bolsa. Lia na ida para o trabalho. Lia na volta. Uma delícia a sensação de que não estamos perdendo tempo no trânsito.

Mas minha felicidade durou pouco. Com a reforma das calçadas da Paulista, acabaram com meu ponto de ônibus, e o próximo, ficou longe demais. Agora, em vez de seguir pelo “cartão postal de São Paulo”, sigo por outra avenida. Tenho menos opções de linhas, mas o trânsito flui melhor. Só então eu percebi a razão de eu, enfim, ter conseguido ler no ônibus sem fica enjoada: o trânsito da Paulista (era como ler parada).

Todo esse preâmbulo para dizer que, como agora não posso ler, fico observando os “passantes”. Hoje vi uma blusa verde. De relance, achei linda. Olhei de novo e vi um detalhe, um detalhezinho mínimo, uma pequena plaquinha de metal, que arruinava tudo.

Quase bonita. A blusa passou perto de ser bonita, o que não significa dizer que ela era sequer usável. Não era. O “quase” significa que ela se desviou por um triz. Com uma mudança mínima, poderia ser bonita, mas, do jeito que estava, era horrorosa. Da blusa, passei para todo o resto.

Seu relatório está quase bom. Estou quase terminando. Ele está quase conseguindo. Quase, quase, quase. Não significa, necessariamente, que você está a um passo de concluir alguma coisa. Pode indicar apenas que você se perdeu por um nada, ou “quase” nada. Enfim, “quase” não é elogio.

Ela quase se casou com o Ernesto, mas ele acabou escolhendo a vizinha. Ele quase conseguiu aquele emprego, não fosse ter bebido antes da entrevista para tomar coragem. Eles quase compraram a casa, pena que não tivessem o dinheiro. Eu quase acertei um soco nele.

Fiquei imaginando uma pessoa “quase bonita”. Uma pessoa quase bonita pode não ser sequer apresentável. Se não fosse o nariz, ele seria bonito. Mas o nariz – aquele nariz – arruína tudo. Você tenta olhar para o dedão do pé do cara, mas o nariz não deixa, atrai seus olhos como um imã.

Eta palavrinha traiçoeira!

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