quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A ditadura da escova

Eu resisti o quanto pude. No final, porém, capitulei. Abandonei meus cachos – na verdade, foram eles que me abandonaram primeiro – e aderi à escova. Escova, e não chapinha! Isso sim teria sido o fim do poço. Foi como descobri um novo universo de torturas e preocupações.

A primeira dificuldade é explicar de que jeito eu gosto do meu cabelo. A comunicação nunca foi tão difícil. E olhe que eu me considera especialista no assunto! (Especialista é alguém capaz de analisar e pôr defeito em tudo, e não, necessariamente, quem sabe fazer direito.) Tive que apelar para imagens grosseiras: não quero nada que se pareça com uma cúpula de abajur ou com as cerdas de uma vassoura. Descobri também que o conceito de “cabelo natural” é bastante fluido.

Nada de sprays e cremes com cheiro de baunilha ou de qualquer outro doce. No final da tarde, eles me dão enjôo ou fome. De preferência, nada de cheiro, pois aí também não há consenso possível.

Depois a preocupação com o sereno, a garoa, a chuva. O suor na ginástica. O vapor do banho. A técnica desenvolvida para se manejar o guarda-chuva ao entrar ou sair do carro – o que requer muita sincronia e um timing perfeito. (Abra uma fresta da porta, o suficiente para passar sua mão, estique o braço para fora e abra o guarda-chuva antes de passar seu corpo pelo vão – molha um pouco o carro, é verdade, mas quem se importa?!)

Esta semana, no entanto, vivi o ápice: descobri uma nova técnica, talvez milenar, quem sabe.

Da cozinha ao salão – Se você já fez escova um dia, sabe que, além de puxarem seus cabelos – aqueles fiozinhos que se enroscam do lado da escova –, muitas vezes sofremos queimaduras, ora no couro cabeludo, ora nas orelhas. Coisa leve, na maioria das vezes.

Por conta disso, alguém teve a brilhante idéia de desenvolver essa técnica especial, que faz uso de um artefato de madeira, muito comum e freqüentemente utilizado nas cozinhas brasileiras, de cabeça arredondada e côncava e cabo comprido.

O que eu vi era todo pintado à mão – por uma criança talvez? – azul, vermelho, verde e amarelo. Um capricho! Você simplesmente apóia a parte côncava contra a sua orelha, segurando pelo cabo, para protegê-la do secador.

Agora pare um momento e imagine a cena. Detalhe: a frente do salão de “beleza” é toda de vidro e dá para uma galeria, como se fosse uma loja. Quem passa por ali – e não é pouca gente – vê tudo o que acontece lá dentro.)

Pois é, a imagem não é muito bonita. E confesso que a técnica não é lá muito moderna nem exige aplicação de grandes avanços tecnológicos. Mas a verdade é que funciona.

Eu, particularmente, desconfio de todo o processo. Por que ficar tão feia e sofrer tanto só para ficar bonita? Será que é essa a técnica dos salões de beleza? Por pelo menos meia hora você fica se olhando naquele espelho, sentindo-se ridícula e sofrendo. Assim, quando a sessão de tortura acaba você acha tudo lindo e maravilhoso, inclusive você. Não seria mais fácil quem tem cabelo liso usar liso e quem tem cabelo crespo usar crespo?

Quanto a mim, como, no momento, meus cabelos crespos não estão mais crespos, mas apenas rebeldes, não tenho outra opção se não deixá-los lisos. Portanto, vamos à escova!

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