domingo, 4 de outubro de 2009

Chama e Fumo - poema de Manuel Bandeira

Amor _ chama, e, depois, fumaça...
Medita no que vais fazer:
O fumo vem, a chama passa...

Gozo cruel, ventura escassa,
Dono do meu e do teu ser,
Amor _ chama, e, depois, fumaça...

Tanto ele queima! e, por desgraça,
Queimado o que melhor houver,
O fumo vem, a chama passa...

Paixão puríssima ou devassa,
Triste ou feliz, pena ou prazer,
Amor _ chama, e, depois, fumaça...

A cada par que a aurora enlaça,
Como é pungente o entardecer!
O fumo vem, a chama passa...

Antes, todo ele é gosto e graça.
Amor, fogueira linda a arder!
Amor _ chama, e, depois, fumaça...

Porquanto, mal se satisfaça
(Como te poderei dizer?...),
O fumo vem, a chama passa...

A chama queima. O fumo embaça.
Tão triste que é! Mas... tem de ser...
Amor?... _ chama, e, depois, fumaça:
O fumo vem, a chama passa...

(Teresópolis, 1911)

Um comentário:

Valter disse...

Li a entrevista que voce fez com o Marcelino, sou um pequeno amante das letras, embora graduado em biologia e professor de ciencias e física. Ficaria muito honrado se vivistasse meu blog e desse a sua opinião. será que tenho jeito para escritor.
um abraço Valter
www.valterfigueira.blogspot.com