domingo, 13 de dezembro de 2009

Um deus passeando pela brisa da tarde

Como seria? Você nunca parou para pensar o que haveria aí, no exato lugar em que está agora, há dez anos? Cem? Mil? Há séculos? O que estaria vendo? O que ou quem pisaria nesse mesmo chão? Haveria chão?

Em “Um deus passeando pela brisa da tarde”, o autor viaja no tempo até o século II, no início da era cristã. Imagina como um homem culto e bem nascido da sua época veria o surgimento dessa nova religião. E vai além. Especula sobre relações políticas e humanas em geral. A família e a sociedade. Principalmente, a sociedade.

Lúcio Valério Quíncio é um homem capaz, inteligente, íntegro. O que, obviamente, não lhe garante sucesso na vida. Como magistrado de Tarcisis, cidade da Lusitânia, durante o Império Romano, esforça-se em cumprir seu papel. Assume responsabilidades. Sacrifica-se. Mas falta a ele o senso prático que a sua mulher domina. Aliás, Mara é a personagem mais forte da história. Conhece seu papel e o cumpre com mais eficiência do que qualquer outro.

A religião surge como desequilíbrio, no sense, fanatismo. Válvula de escape ou tábua de salvação para os desvalidos da época. Uma visão crítica, certamente, porém convincente.

Mario de Carvalho sabe dosar as cores. É um bom alquimista. A leitura é fácil, envolvente. E ainda tem gente que perde tempo tentando inventar máquinas para viajar no tempo. Elas já existem e estão, literalmente, ao alcance das mãos.

Primeiro livro que li de Mario de Carvalho. Certamente, haverá outros.

Ficha técnica: “Um deus passeando pela brisa da tarde”, de Mario de Carvalho, Companhia das Letras, 2006.

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