segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Aprender a rezar na era da técnica

Há dois tipos de homem sobre a terra: os que atacam e os que se defendem. Lenz Buchmann pertence ao primeiro grupo.

Perícia e habilidade marcam tanto o médico como o político. Assim como um código moral bastante peculiar, aparentemente herdado do pai.

O mundo, sob a ótica do personagem, divide-se entre fortes e fracos. Saúde e doença. Técnica. Natureza. Um mundo violento e agressivo. Como a doença que acomete a sua família. Contra a qual, nem defesa, nem ataque parecem surtir efeito.

“Aprender a rezar na era da técnica” é o último livro da tetralogia O Reino, de Gonçalo M. Tavares. Fazem parte do conjunto: “Um homem: Klaus Klump” (2003), “A máquina de Joseph Walser” (2004) e “Jerusalém” (2006).

O que move o ser humano? O medo ou o desejo. Mas o que subjaz ao movimento? A natureza e a técnica travam seus duelos diários e eternos. Mas não há um equilíbrio de forças. Nunca haverá. A natureza não pode ser sobrepujada. Lenz Buchman domina a técnica e conhece a natureza. Não a subestima. Nem por isso consegue vencê-la.

A narrativa de Gonçalo M. Tavares é fresca e vigorosa. Não são as palavras que se enroscam e enlaçam umas as outras, mas imagens e idéias.

Nesse mundo, criado por Tavares, não há espaço para o amor. Pelo menos, não é ele que sustenta os personagens ou os coloca em movimento. Há desejo, admiração, respeito, desprezo, idolatria, compaixão, gratidão. Senso de dever e de honra. Senso de fatalidade.

A violência sobrepuja tudo e todos. Por isso O Reino é conhecido em Portugal como “os livros pretos” - aliás, a capa da edição portuguesa de “A máquina de Joseph Walser” é preta também, imagino que todos sejam.

Ficha Técnica: “Aprender a rezar na era da técnica”, de Gonçalo M. Tavares, Companhia das Letras (2008)

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