terça-feira, 9 de junho de 2009
Viver sem tempos mortos
Quero meu duplo
Simone ou Fernanda? Difícil dizer o que move a peça, se a personagem ou a atriz que a personifica.
Quero meu duplo
Durante 60 minutos são elas que dão as cartas, sentadas numa cadeira, num palco vazio, despejando palavras, contando histórias, narrando uma vida. Admiro a coragem de ambas. Ela me comove.
Quero meu duplo
Ao final da peça, as luzes se apagam e o teatro deságua em aplausos. Em algum instante, na escuridão e no barulho estrepitoso, Simone cederá lugar à Fernanda. Eu aguardo, ansiosa. E é esta quem recupera o fôlego para agradecer a manifestação emocionada e vibrante do público, já sob as luzes acesas.
Quero meu duplo
Como será essa sensação? Quedar sentada no escuro, sozinha e exposta em praça pública ao mesmo tempo, após uma hora de concentração, nervosismo, esforço. Uma hora de tensão que consome o corpo, retesa os músculos, obriga a respiração a se ajustar às frases, o corpo a se conter.
Quero meu duplo
Saber-se o centro das atenções, a principal peça do tabuleiro. Comandar uma multidão de pessoas, conduzi-las por caminhos que só você conhece, jogar com elas, invadi-las. Abduzi-las. E, no final, ali, calada, protegida pela ausência de luz, sentir pela vibração do chão que alcançou seu objetivo.
Quero meu duplo
Durante aqueles ínfimos segundos, debaixo de escuridão e dos aplausos, o rosto invisível, a respiração ainda acelerada, o corpo aquecido pelo esforço, os músculos começando a desfalecer, aliviados, o que respira Fernanda? Que ar invade seus pulmões?
Ficha Técnica: "Viver sem tempos mortos", peça inspirada em correspondências de Simone de Beauvoir para Jean-Paul Sartre, com Fernanda Montenegro e direção de Felipe Hirsh. Em exibição no SESC Consolação.
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Um comentário:
Se tem alguém que merece um duplo, o melhor do mundo, é você querida.
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