segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Uma casa na escuridão / A Casa, A Escuridão

Ainda estou perdida. Não sei o que pensar. Pior, não sei o que sentir. Confusão, com certeza. Como se tivesse parado para tomar fôlego e já não soubesse mais que direção retomar.

Outra vez o universo atordoante de José Luís Peixoto. Aqui ainda mais distorcido do que em “Nenhum Olhar”. Um texto que se arrasta, que se movimenta num ritmo inusitado, ao sabor de uma música própria talvez, dando voltas. Mas nenhum desses movimentos é tomado por acaso.

Há uma melodia que se desenha. Como a do encantador de serpentes. Trágica e doce. Dura, afiada feito faca. Lâminas a cortar a carne de dóceis cordeiros. Violenta. Inexorável.

Seres mutilados. Aqui, ainda mais. Amores desencontrados e impossíveis. Mas, ainda assim, o amor é tudo que existe. O amor é solidão. Solidão é tudo que existe.

E morre-se devagar. A carne apodrece aos poucos e se desfaz, desaparece. Apodrece quando lhe falta o amor.

Mas o amor retorna ao final, trazendo a morte. A redenção. O amor. A morte. A redenção?

O amor é impossível. Hoje. Aqui. Mas ainda há uma esperança fugidia. Uma esperança que escapa. Um fio de esperança que perpassa o livro e as almas que ele encerra.

Talvez em outro lugar. Talvez em outro tempo. Talvez quando formos outros.