Para o livro dos recordes
Entrei no táxi às 15h02. Cheguei ao aeroporto às 15h45. Às 15h58 já havia passado pelo check-in e pela Polícia Federal e estava sentada em frente a um Café Havanna.
Torre de Babel
Não consigo identificar todas as línguas. Mas sei que são distintas. Em vozes e timbres diferentes, paisagens distantes. Visões. O que faz um homem? A geografia do seu país ou sua geografia genética? As histórias que lhe contam? As paisagens que vê? As palavras que escuta? As que fala? O ar que respira? A comida que ingere? Os cheiros que aspira? As lágrimas que produz ou que provoca? O amor que dá? O que recebe? O que faz de nós o que somos? Os amigos que perdermos? Ou simplesmente os amigos? E ainda não saí do aeroporto de Guarulhos.
Portugal
Acabam de chamar os passageiros TAP com destino a Portugal. Pensei em embarcar.
De São Paulo a Frankfurt
Espremida entre dois homens. Um português, de Goa, e um brasileiro. Obviamente, quem me deu atenção e conversou comigo foi o português. A viagem foi tão desconfortável que, a cada movimento de um, os outros dois também se moviam mesmo sem querer. Levantar para ir ao banheiro também exigia prévio acordo tácito. E sincronia. Íamos todos “juntos”. Por sorte, havia quatro cabines.
Ridículo
O vídeo da companhia aérea mostrando ao passageiro como ele pode – e deve – se alongar em sua poltrona respeitando o cubículo que lhe cabe dentro daquela aeronave. Além de mim, nenhum outro passageiro demonstra ter ciência do que se passa na tela.
Frankfurt
O aeroporto parece ainda maior do que eu lembrava. Chego de manhã, alguns minutos antes do horário, sob um céu cinza, mas com sol. É bom ouvir o português de quando em quando, perdido, nos corredores do aeroporto alemão. Parto no final da tarde, alguns minutos depois do horário, sob um céu quase azul.
De Frankfurt a Seoul
Apesar da loucura desta viagem, gosto de estar aqui. Já passei sobre Portugal, na primeira etapa, agora sobrevoo Moscou e região. Posso ver as luzes das cidades, seus desenhos. Com algum esforço, posso até ouvir a respiração de todos que dormem lá embaixo. Onde estarei no ano que vem? Ou melhor, onde quero estar? Estamos sobre a África. É noite. O céu está estrelado. As nuvens desabaram no chão. Faz muito frio lá fora. Acho que nunca estive tão perto das estrelas.
Crianças: Hoje, quando acordei e abri a janela, tomei um susto. O céu estava de um azul bem limpinho, mas o chão era feito só de nuvens. E eu viajava na direção do sol. Mas ainda havia uma meia lua branca quase fosforescente, que foi perdendo o brilho e ganhando transparência. Até sumir de vez e deixar o dia começar.
Seoul
Seoul está escondida entre as nuvens. Minutos antes de aterrissar, só o que posso ver pelaa janela é uma luminosidade excessiva antes de mergulharmos nas nuvens. Em seguida, o avião alcança o chão. Estou no Incheon, o aeroporto de Seoul. Não faz tanto frio. Do aeroporto ao hotel é possível ter um panorama da cidade. Enevoada e cinza. Rodovias suspensas sobre as águas – ou melhor, sobre o leito agora quase seco das águas – correm lado a lado. Árvores secas, sem folhas. Florestas inteiras fingem-se de mortas. Dentro da cidade, as avenidas são enormes e largas. A elas convergem ruelas estreitas e sinuosas. Deve ser muito fácil se perder por aqui.
Noite em Seoul
A noite é mais colorida que o dia. As nuvens se dissiparam. A escuridão do céu é iluminada pelos coloridos letreiros da cidade. E são infinitos. Indecifráveis.
Hotel
Sempre que chego, o rádio está ligado e sintonizado num canal de música clássica. O som é suave e em baixo volume. Aos poucos, o quarto vai sendo adaptado a mim. A garrafa de água passa da pia do banheiro para o criado-mudo, onde costumo deixar as garrafas vazias. O número de travesseiros da cama diminui para atender o meu gosto. Pequenos detalhes. Mas fazem com que eu me sinta notada. E bem-vinda.
A síndrome do ar condicionado
Como no Brasil. Mas ao contrário. Onde quer que você vá, passa-se calor. O ar condicionado é regulado para aquecer o ambiente. Mas aquece demais. É preciso usar blusa sem manga debaixo de um grande casaco de lã.
Is it your first time in Ásia?
Pode apostar. E é só nesse instante que tenho a idéia exata de onde estou, afinal. Do outro lado do mundo. Como foi mesmo que cheguei aqui?
Insegurança
Impossível reconhecer uma palavra. Uma placa de trânsito ou direção. O cenário urbano, caótico e colorido, também não ajuda a individualização de um prédio ou de uma esquina. A primeira impressão que se tem é de impotência. Parece que você nunca será capaz de andar sozinha pela cidade.
Viagem no tempo
Estamos 12 horas à frente do Brasil. Quando a quinta-feira acaba por aqui, começa por lá. Estranho, mas divertido.
Seoul com sol
As nuvens se dissiparam. Hoje faz um belo dia frio de sol forte. Nada de chuva. Ideal para um passeio. As placas indecifráveis, enfim, entregam suas pistas: números. O metrô é a chave da porta da rua.
Gyeongbokgung Palace
Um enorme conjunto de prédios. Dentro da cidade. As primeiras construções são de 1395. Gyeongbokgung significa “Palácio abençoado pelo Paraíso”. Você se perde entre uma e outra passagem. Parece não ter fim. Em todas as construções, delicadas pinturas enfeitam o teto de madeira recortado feito renda. Figuras de animais se espalham sobre os telhados. Mas não são animais ameaçadores. Parecem personagens de histórias infantis. Emoldurando o cenário, montanhas, parques e prédios. A cidade que se espalha e envolve esse pedaço de história.
The Folk Museum
Ao lado de Gyeongbokgung. Parte do conjunto. Conta a história do povo, da formação do estado. Seus costumes, sua cultura. Vale a visita.
Ao lado de Gyeongbokgung. Parte do conjunto. Conta a história do povo, da formação do estado. Seus costumes, sua cultura. Vale a visita.
Paris
Vi Paris pela primeira vez. Da janela do avião. Por acaso. Eu me distraía vendo as luzinhas lá embaixo. O contorno de cidades distantes. De repente, tropecei nessa cidade enorme. Chamou minha atenção sua geometria. Então vi a torre iluminada. Inconfundível. Se, na minha viagem de ida, pensei em embarcar para Lisboa, na volta, quis descer em Paris.
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