Taxista nº1: André. Do aeroporto até Ipanema. Mudo, a princípio. Mas é só dar a deixa – ou seja, fazer uma pergunta qualquer – que ele destrava a língua. Descobri: que ele considera “ishcrota” uma senhora com mais de 70 anos usando calça fusô branca com tanguinha preta por baixo, mas acha muito legal ver um casal de velhinhos caminhando de mãos dadas em “Copa”. Que uma mania de São Paulo que não pegou no Rio de Janeiro foi o roubo de notebooks. Que uma mania de São Paulo que pegou no Rio de Janeiro foi a venda de chicletes pendurando saquinhos de plástico nos retrovisores dos carros que param nos sinais.
Taxista nº2: Esse não se apresentou. Também começou mudo, mas dei a deixa. Pronto. Ajeitou o espelhinho para poder falar olhando para mim. Depois puxou bem o banco do carona para me dar mais espaço. Desdobrou-se em gentilezas e sorrisos. Conversou comigo de Ipanema até a Gávea. Falou da construção da ponte Rio-Niterói e da história do Rio. Moço interessante.
[Interrupção da homenagem para um comentário de próprio punho: O conceito contemporâneo de servidão me incomoda. Do garçom, do taxista, do porteiro. Pessoas sem nome. História. Passado. Vontade. Expectativas. Temperamento. Prestam um serviço. Você paga por eles. Direta ou indiretamente. Gravitam ao nosso redor como se fossem invisíveis. Às vezes falam comigo e eu sequer escuto, distraída, como se eles fossem parte do cenário. Gosto de pessoas. De conhecer pessoas. Observar os que passam por mim. Não importa se trocaremos olhares, cumprimentos, palavras ou se apenas vamos compartilhar por alguns segundos o mesmo lote de ar atmosférico, poluído ou não. Quem sabe um virusinho qualquer. Minha história é construída instante a instante. A cada respiração.]
Taxista nº3: Uma rua perdida. Ninguém sabia onde ficava. Em nosso mapa simplificado, ela sequer aparecia. Mas escolhemos o taxista certo. Ou terá sido o contrário? Assim que mencionamos o nome da rua, ele abriu um sorriso largo. Conhecia. Devia ter um sessenta e tantos anos. Contou que trabalhou na Europa. Até na Rússia. Foi motorista de ônibus. Falou do filho, orgulhoso. Isso tudo apesar de um problema de audição denunciado pelo aparelhinho branco preso ao ouvido. Velhinho simpático.
Taxista nº4: Carioca não sabe caminho. Nem nome de rua. E – pasmem! – os taxistas se incluem nesse grupo. É a coisa mais engraçada (ou irritante – dependendo do dia) de se ver. Não conhecem as ruas, não sabem o caminho e sequer se preocupam com isso. Parece que, lá, essa obrigação cabe ao passageiro. Não usam GPS e não vi ninguém consultar um simples guia. Pegamos um táxi do Parque Lage até Santa Teresa. O taxista era um senhor mais velho e bem humorado. Depois de perguntar se sabíamos o caminho, deu uma risada divertida antes de declarar: “Pó dexá que nós chegamo lá. Três cabeças pensam melhor que uma”. Chegamos.
Taxista nº5: Foi o primeiro taxista que reclamou do rio. Da cidade, melhor dizendo. E foi o último com quem conversei, pois me levou da Lagoa até o Santos Dumont. Fiquei surpresa, afinal, no Rio de Janeiro, o maior elogio que um carioca pode fazer é “logo, logo a moça vira carioca”. Não esse taxista. Esse queria se mudar para Paraty. Está a uma semana de se aposentar. Quer viver no meio do mato, segundo ele. Naquele lugar mais lindo de se ver, segundo ele. Quem sou eu para discordar!
quinta-feira, 2 de abril de 2009
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