Uma história de família. Grande e desequilibrada. Narrada em primeira pessoa, por uma das personagens, Veronica. E aí está o que mais me agradou nesse livro. O modo como a história é contada, mais do que a história em si.
Embora a narrativa não seja linear, oscilando entre passado e presente, não há confusão alguma. A condução de Anne Enright, sua construção, funciona bem. Nem a inconstância de Veronica, a personagem-narradora, que vive no limite da consciência e da perturbação, representa um obstáculo ao leitor.
Apesar da dramaticidade, a narrativa é sóbria em sentimentos. A memória e a invenção se confundem. Veronica não sabe se imagina ou recorda. Em determinadas passagens, deixa claro sua invencionice. Afinal, o que importa se tudo se passou dessa ou daquela maneira? Poderia ter sido assim. E isso é o suficiente para desnudar os personagens que apresenta.
E em todos os momentos, os laços de família. Que une cada um ao outro. Uma corda que aperta braços, cinturas, pernas, pescoços. Às vezes tão forte a ponto de sufocar. Amor e ódio. Vida e morte.
Gosto da novidade do texto de Anne Enright, da agressividade e dramaticidade de Veronica, do seu tom seco e cortante, da ironia. E, por debaixo disso, a dor. Imensa. Excruciante. Pelo que se perde e pelo que se ganha. Por se estar vivo e por querer morrer.
Ficha Técnica: "The Gathering", de Anne Enright, Editora Black Cat, New York: 2007. (Publicado no Brasil com o título “O Encontro”, pela Alfaguara Brasil.)
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