Atravessando mundos e séculos, Mia Couto narra histórias paralelas, separadas por séculos e culturas, mas estranhamente próximas.
Como pano de fundo, a religião, as crenças e os reflexos de povos que se esbarram, se encontram, se misturam, se chocam e se fundem.
Você pode ler o livro como se ele falasse de mundos distantes, exóticos, apartados do nosso. Mas, sinceramente, não acredito nisso. Prefiro ver no texto um outro olhar sobre nós mesmos, nossas origens, nossa história.
Em 1560, D. Gonçalo da Silveira leva uma imagem de Nossa Senhora desde a Índia até Moçambique. Viaja para catequizar.
Em 1560, Nimi Nsundi, viaja da Índia a Moçambique como escravo, mas serve à Kianda, a deusa das águas, também cativa da nau dos portugueses, presa numa estátua de madeira, ordenando ser libertada.
Em 2002, de novo a estátua. Se da santa, se da deusa, não sei. Mas, dessa vez, quem anseia por liberdade é outra personagem: Mwadia, a canoa, aquela que faz a travessia, a passagem.
Costurando por esses retalhos, o autor constrói sua história. Com humor e inteligência.
O outro pé da sereia revela um pouco de uma cultura distante e próxima, a da África de língua portuguesa. É um bom livro para se conhecer um pouco do trabalho de Mia Couto.
Ficha Técnica: "O outro pé da sereia", de Mia Couto, Editora Companhia das Letras.
sábado, 29 de novembro de 2008
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