Na semana passada, a França aprovou uma nova lei de imigração. Entre as novidades, a realização de testes de língua e de “valores franceses” – o que será isso? – além de exames de DNA, obrigatórios, para os “candidatos a imigrantes” que desejarem comprovar parentesco com os imigrantes já residentes no país.
Confesso que não simpatizo com Sarcozy desde a época em que ele ainda era ministro do interior e virtual candidato à presidência da França. Sua postura e suas declarações durante a tal da “intifada francesa” ou, melhor dizendo, aquela onda de incêndios a carros e prédios protagonizada por jovens imigrantes, franceses ou não, legalizados ou não, não deixaram espaço para dúvidas: Sarcozy mostrou a que veio.
Mas, se ele foi eleito presidente da França, é sinal que muita gente por lá - pelo menos a gente que vota e que tem peso para decidir uma eleição - concorda com ele.
Ainda assim, e mesmo que Sarcozy fosse uma doce e meiga criatura, não dá para ter muito boa vontade com essa nova lei. Para não subverter demais a ordem (nada) natural das coisas, vamos admitir que cada porção do planeta, a que se convencionou (quem convencionou o quê? eu não assinei nada!) chamar de país, pertença a este ou àquele grupo de pessoas e que estas tenham pleno direito de impedir que outros dele se aproximem (é assim que se fazem, ou pelo menos faziam, as guerras, não?). Sendo assim, pode-se permitir ou proibir a imigração.
Se proibida, tudo bem, não há mais nada a dizer. Mas, se permitida, a questão é saber de que modo se dará essa permissão. Será total ou irrestrita? No caso da França, existem restrições. E o limite delas é que é o problema.
Acredito que haja espaço para muita discussão entre o que seria uma limitação aceitável ou não, mas, no caso da obrigatoriedade do exame de DNA para comprovação de laços de família, só vejo lugar para uma coisa: preconceito.
O critério “sangue” há muito se mostrou insuficiente para definir e identificar uma família – se é que um dia o foi. A natureza da matéria que une as pessoas a ponto de elas se reconhecerem como pai, mãe, filhos, avós e sabe-se lá o que mais pode ser difícil de definir, mas é muito fácil dizer o que não é: pura biologia. Realmente, não sei qual seria a contribuição do exame de DNA nisso tudo.
Ainda assim, essa discussão toda em torno da movimentação de pessoas ao longo do globo – que de forma alguma se restringe a um problema da França – é muito estranha. Uma hora somos compelidos à cidadania global e outra, viramos ferrenhos defensores do nosso quinhão de terra!
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
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