terça-feira, 6 de novembro de 2007

Nóia

Decididamente, ando sem paciência. Hoje tive a prova disso. Estava tomando meu tradicional café, quando duas garotas passaram por mim e se sentaram no sofá às minhas costas. Chegaram falando e continuaram falando sem parar.

Falavam rápido. Só consegui pescar algumas palavras soltas. Mas já foi o suficiente para ter uma idéia do que se seguiria.

Givenchy - umas micro-cápsulas que se adaptam à sua cor de pele - é tipo assim - mó legal - entendeu?

Obviamente o assunto era maquiagem. O quê, exatamente, não sei. Até aí, tudo bem. Apesar de elas não conseguirem transformar uma só pensamento numa frase completa, minimamente organizada, eu ainda estava agüentando.

É foda! - mó conceituada - juuuura?! - é tréshi - tá ligado - aaahh, dá licença, meu! - um puta role.

Repetia para mim mesma: “Calma, você tem 35, e não 70. Deixa as meninas em paz. Que tal um pouquinho de auto-controle?”.

O problema era que, além do linguajar, a temática também não era lá essas coisas. “Eu assumi, sou perua mesmo! E daí? Gosto de usar salto, uso blush todo dia. Ah, dá licença! Eles têm medo de... do diferente, tem que ser todo mundo igual.” O tom era um misto de desabafo e desafio. Ou talvez fosse pura exibição mesmo, só para impressionar a amiga.

“Será que aqui pode fumar?” Quem perguntou foi a “auto-proclamada” perua. Eu gelei. Olhei para o lado, angustiada, na esperança de encontrar aquela plaquinha que eu adoro (melhor dizendo: a-d-o-r-o!!!). Achei. “Pode, tenho certeza. Vou pegar o cinzeiro pra você.”

Momento de tensão. Eu me remexi no sofá, incomodada. Minha vontade era de me intrometer na conversa e mostrar o aviso de proibido fumar – havia um ao lado de cada mesa. Mas achei melhor aguardar o desfecho. A amiga solícita logo voltou de mãos vazias. Ufa!

“E aí, amiga? Tá feliz casada? Mulher determinada, você, hein?” – perguntou a amiga que havia desistido de fumar.

Um aparte: as amigas aparentavam não ter sequer 20 anos. Pareciam mesmo duas menininhas de 14 anos brincando de gente grande, com seus vestidinhos pretos, da moda, e bolsas coloridas – de verniz, claro.

A casada, que se declarou felicíssima – “afinal você sabe o tanto que eu gosto dele” – estava, há poucos minutos, reclamando do tratamento recebido do marido. “Eu levanto pra trabalhar e ele fica lá dormindo. Tenho que subir até a Paulista e ainda pegar o metrô. E ele nem pra me levar. Quando eu morava com a minha mãe, ela sempre me fazia isso.”

“E a Alice?” – quis saber a outra, falando um tom mais baixo, como se a tal Alice pudesse estar ali por perto, ouvindo toda a conversa, que até então vinha se desenvolvendo em alto e bom som. Um tanto alto demais para o meu gosto!
“Ah, tipo, ela entra no meu orkut direto. Nóia total!”

Acho que foi nessa hora que o ogro veio à tona, ou melhor, a ogra, no bom estilo “princesa Fiona”. Levantei da mesa com pressa e saí de lá quase correndo. Nóia total mesmo. E tem gente que ainda reclama de envelhecer!

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