quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Cartas Portuguesas
Tudo começou com Matisse. Vi, numa exposição dele, algumas ilustrações de "Cartas Portuguesas" e uma breve explicação do que se tratava: cartas de amor escritas por uma freira portuguesa a um oficial francês em pleno século XVIII. Pouco depois, assistindo a um filme ("A vida secreta das palavras"), eis que ele surge novamente, como peça de um romance fadado à tragédia.
Não tive escolha, comprei o livro. Aparentemente, não se sabe a origem das cartas. Nem em que língua foram escritas: português ou francês. Obra de ficção ou relato fidedigno de um amor mal acabado?
Claro que meu primeiro impulso foi querer acreditar. É muito mais emocionante. A pobre Mariana - esse é o nome da freira - apaixona-se pelo francês, que a seduz e depois some do mapa. História batida, mas repetida até hoje. Ao longo de cinco cartas, Mariana se derrama de amores, lamentos e recriminações ao amado. Tudo ao mesmo tempo agora, no bom e velho estilo feminino.
Depois me recrimino, e torço para as cartas não passarem de ficção - pobre Mariana!
A verdade é que nada disso importa. Hoje, tantos anos após a primeira publicação das cartas, quem se lembra de algum outro nome que não seja o da Sóror Mariana Alcoforado? De todas as verdades possíveis, essa foi a que restou.
Ficha técnica: "Cartas Portuguesas", da Sóror Mariana Alcoforado, Editora Núcleo
Não tive escolha, comprei o livro. Aparentemente, não se sabe a origem das cartas. Nem em que língua foram escritas: português ou francês. Obra de ficção ou relato fidedigno de um amor mal acabado?
Claro que meu primeiro impulso foi querer acreditar. É muito mais emocionante. A pobre Mariana - esse é o nome da freira - apaixona-se pelo francês, que a seduz e depois some do mapa. História batida, mas repetida até hoje. Ao longo de cinco cartas, Mariana se derrama de amores, lamentos e recriminações ao amado. Tudo ao mesmo tempo agora, no bom e velho estilo feminino.
Depois me recrimino, e torço para as cartas não passarem de ficção - pobre Mariana!
A verdade é que nada disso importa. Hoje, tantos anos após a primeira publicação das cartas, quem se lembra de algum outro nome que não seja o da Sóror Mariana Alcoforado? De todas as verdades possíveis, essa foi a que restou.
Ficha técnica: "Cartas Portuguesas", da Sóror Mariana Alcoforado, Editora Núcleo
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
O Reino
Foi esse o nome de batismo da tetralogia de Gonçalo M. Tavares, que tem a violência como tema central. Em ordem cronológica, são quatro romances: "Um homem: Klaus Klump", "A máquina de Joseph Walser", "Jerusalém" e "Aprender a rezar na era da técnica".
Li tudo ao contrário. Comecei por "Jerusalém", depois, "Aprender a rezar...". Só então li os dois primeiros, na ordem certa. Já escrevi sobre os últimos. Agora, portanto, vou me concentrar em "Um homem: Klaus Klump" e "A máquina de Joseph Walser". Gostaria de escrever sobre o conjunto, mas, para isso, teria que ler tudo outra vez. E na ordem. Quem sabe um dia?
Ambas as histórias se passam numa mesma época e local - aliás, mesma época e local de "Aprender a rezar..." -, num cenário de guerra, opressão e violência. Não, esses termos não são sinônimos.
Apesar das semelhanças, Klump e Walser vivenciam guerras diferentes, são oprimidos de modo diverso e sofrem, ou não, violências distintas. Klump é filho de um industrial. Walser é empregado de uma fábrica.
E é a partir do comportamento desses dois personagens que o autor explora o seu tema e decanta a natureza humana. O que sobra no tubo de ensaio não é muito animador, mas com certeza é bastante coerente com o que chamamos de sociedade moderna.
Interessante observar que, embora nos romances de Tavares não existam heróis ou bandidos, é sempre possível encontrar uma heroína perdida numa ou noutra página.
Leitura obrigatória.
Ficha Técnica: "Um homem: Klaus Klump", Editora Caminho, "A máquina de Joseph Walser", editora Companhia das Letras, de Gonçalo M. Tavares.
Li tudo ao contrário. Comecei por "Jerusalém", depois, "Aprender a rezar...". Só então li os dois primeiros, na ordem certa. Já escrevi sobre os últimos. Agora, portanto, vou me concentrar em "Um homem: Klaus Klump" e "A máquina de Joseph Walser". Gostaria de escrever sobre o conjunto, mas, para isso, teria que ler tudo outra vez. E na ordem. Quem sabe um dia?
Ambas as histórias se passam numa mesma época e local - aliás, mesma época e local de "Aprender a rezar..." -, num cenário de guerra, opressão e violência. Não, esses termos não são sinônimos.
Apesar das semelhanças, Klump e Walser vivenciam guerras diferentes, são oprimidos de modo diverso e sofrem, ou não, violências distintas. Klump é filho de um industrial. Walser é empregado de uma fábrica.
E é a partir do comportamento desses dois personagens que o autor explora o seu tema e decanta a natureza humana. O que sobra no tubo de ensaio não é muito animador, mas com certeza é bastante coerente com o que chamamos de sociedade moderna.
Interessante observar que, embora nos romances de Tavares não existam heróis ou bandidos, é sempre possível encontrar uma heroína perdida numa ou noutra página.
Leitura obrigatória.
Ficha Técnica: "Um homem: Klaus Klump", Editora Caminho, "A máquina de Joseph Walser", editora Companhia das Letras, de Gonçalo M. Tavares.
sábado, 19 de dezembro de 2009
Linha Reta - Poema de Cecília Meireles
A Cassiano Ricardo
Não tenteis interromper o pássaro que voa em linha reta
de leste a oeste. Alto e só.
Não lhe pergunteis se avista cidades, mares, pessoas
ou se tudo é um liso deserto. Vasto e só.
Ele não passa para contemplar essas coisas do mundo.
Ele vem de leste, ele vai para oeste. Alto e só.
Ele vai com sua música dentro dos olhos fechados.
Quando chegar ao fim, abrirá os olhos e cantará sua
[música.
Vasta e só.
Cecília Meireles
Não tenteis interromper o pássaro que voa em linha reta
de leste a oeste. Alto e só.
Não lhe pergunteis se avista cidades, mares, pessoas
ou se tudo é um liso deserto. Vasto e só.
Ele não passa para contemplar essas coisas do mundo.
Ele vem de leste, ele vai para oeste. Alto e só.
Ele vai com sua música dentro dos olhos fechados.
Quando chegar ao fim, abrirá os olhos e cantará sua
[música.
Vasta e só.
Cecília Meireles
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Gonçalo M. Tavares
Veja entrevista com Gonçalo M. Tavares publicada no Cronópios, portal de literatura, no dia 29 de novembro:
http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=4311
Esse texto faz parte de um projeto pessoal, que reuniará perfis e entrevistas com diversos autores de língua portuguesa e deverá se estender ao longo do próximo ano.
http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=4311
Esse texto faz parte de um projeto pessoal, que reuniará perfis e entrevistas com diversos autores de língua portuguesa e deverá se estender ao longo do próximo ano.
O Bairro
Senhor Breton / Senhor Brecht / Senhor Walser / Senhor Juarroz / Senhor Krauss
Quem são esses senhores? Moradores de um bairro criado por Gonçalo M. Tavares. De acordo com o autor, o Bairro seria uma espécie de utopia, um lugar imaginário onde se cruzariam personagens de ficção, batizados com nomes de personalidades do mundo literário e artístico. Entre nome e personagem, algum ponto de contato sim, mas nada além.
Até o momento são 9 senhores, mas, na ilustração de abertura das edições atuais, são identificados quase 40. Projeto de longo prazo, com certeza. E sem garantias. Novos moradores podem surgir e alguns dos já indicados podem nunca ganhar a sua conversão ao papel.
Textos curtos, livros pequenos, leitura fácil. Desses para ler de uma vez só. E depois deixar por perto, ao alcance das mãos, para abrir uma página ao acaso. O senhor Krauss para discutir as relações de poder, especialmente o político. Cínico e divertido. O senhor Juarroz para pensar na inadequação dos poetas ao mundo - e na resignação das mulheres (a senhora Juarroz é ótima!). O senhor Walser para sofrer com seu conformismo absurdo - uma espécie de 'Cândido', em sua ingenuidade que beira à burrice, e 'Poliana', em seu jogo do contente, misturados. O senhor Brecht para engolir pedras sorrindo, como se estivesse lendo um livro de piadas - absurdo, divertido e, acima de tudo, crítico. E o senhor Breton com seu exercício metafísico da palavra.
Meu preferido, até o momento, é o senhor Brecht.
Ficha Técnica: "senhor Breton", "senhor Brecht", "senhor Walser", "senhor Juarroz", "senhor Krauss", de Gonçalo M. Tavares, Editora Casa da Palavra.
Quem são esses senhores? Moradores de um bairro criado por Gonçalo M. Tavares. De acordo com o autor, o Bairro seria uma espécie de utopia, um lugar imaginário onde se cruzariam personagens de ficção, batizados com nomes de personalidades do mundo literário e artístico. Entre nome e personagem, algum ponto de contato sim, mas nada além.
Até o momento são 9 senhores, mas, na ilustração de abertura das edições atuais, são identificados quase 40. Projeto de longo prazo, com certeza. E sem garantias. Novos moradores podem surgir e alguns dos já indicados podem nunca ganhar a sua conversão ao papel.
Textos curtos, livros pequenos, leitura fácil. Desses para ler de uma vez só. E depois deixar por perto, ao alcance das mãos, para abrir uma página ao acaso. O senhor Krauss para discutir as relações de poder, especialmente o político. Cínico e divertido. O senhor Juarroz para pensar na inadequação dos poetas ao mundo - e na resignação das mulheres (a senhora Juarroz é ótima!). O senhor Walser para sofrer com seu conformismo absurdo - uma espécie de 'Cândido', em sua ingenuidade que beira à burrice, e 'Poliana', em seu jogo do contente, misturados. O senhor Brecht para engolir pedras sorrindo, como se estivesse lendo um livro de piadas - absurdo, divertido e, acima de tudo, crítico. E o senhor Breton com seu exercício metafísico da palavra.
Meu preferido, até o momento, é o senhor Brecht.
Ficha Técnica: "senhor Breton", "senhor Brecht", "senhor Walser", "senhor Juarroz", "senhor Krauss", de Gonçalo M. Tavares, Editora Casa da Palavra.
domingo, 13 de dezembro de 2009
Um deus passeando pela brisa da tarde
Como seria? Você nunca parou para pensar o que haveria aí, no exato lugar em que está agora, há dez anos? Cem? Mil? Há séculos? O que estaria vendo? O que ou quem pisaria nesse mesmo chão? Haveria chão?
Em “Um deus passeando pela brisa da tarde”, o autor viaja no tempo até o século II, no início da era cristã. Imagina como um homem culto e bem nascido da sua época veria o surgimento dessa nova religião. E vai além. Especula sobre relações políticas e humanas em geral. A família e a sociedade. Principalmente, a sociedade.
Lúcio Valério Quíncio é um homem capaz, inteligente, íntegro. O que, obviamente, não lhe garante sucesso na vida. Como magistrado de Tarcisis, cidade da Lusitânia, durante o Império Romano, esforça-se em cumprir seu papel. Assume responsabilidades. Sacrifica-se. Mas falta a ele o senso prático que a sua mulher domina. Aliás, Mara é a personagem mais forte da história. Conhece seu papel e o cumpre com mais eficiência do que qualquer outro.
A religião surge como desequilíbrio, no sense, fanatismo. Válvula de escape ou tábua de salvação para os desvalidos da época. Uma visão crítica, certamente, porém convincente.
Mario de Carvalho sabe dosar as cores. É um bom alquimista. A leitura é fácil, envolvente. E ainda tem gente que perde tempo tentando inventar máquinas para viajar no tempo. Elas já existem e estão, literalmente, ao alcance das mãos.
Primeiro livro que li de Mario de Carvalho. Certamente, haverá outros.
Ficha técnica: “Um deus passeando pela brisa da tarde”, de Mario de Carvalho, Companhia das Letras, 2006.
Em “Um deus passeando pela brisa da tarde”, o autor viaja no tempo até o século II, no início da era cristã. Imagina como um homem culto e bem nascido da sua época veria o surgimento dessa nova religião. E vai além. Especula sobre relações políticas e humanas em geral. A família e a sociedade. Principalmente, a sociedade.
Lúcio Valério Quíncio é um homem capaz, inteligente, íntegro. O que, obviamente, não lhe garante sucesso na vida. Como magistrado de Tarcisis, cidade da Lusitânia, durante o Império Romano, esforça-se em cumprir seu papel. Assume responsabilidades. Sacrifica-se. Mas falta a ele o senso prático que a sua mulher domina. Aliás, Mara é a personagem mais forte da história. Conhece seu papel e o cumpre com mais eficiência do que qualquer outro.
A religião surge como desequilíbrio, no sense, fanatismo. Válvula de escape ou tábua de salvação para os desvalidos da época. Uma visão crítica, certamente, porém convincente.
Mario de Carvalho sabe dosar as cores. É um bom alquimista. A leitura é fácil, envolvente. E ainda tem gente que perde tempo tentando inventar máquinas para viajar no tempo. Elas já existem e estão, literalmente, ao alcance das mãos.
Primeiro livro que li de Mario de Carvalho. Certamente, haverá outros.
Ficha técnica: “Um deus passeando pela brisa da tarde”, de Mario de Carvalho, Companhia das Letras, 2006.
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