terça-feira, 26 de maio de 2009

The Gathering

Uma história de família. Grande e desequilibrada. Narrada em primeira pessoa, por uma das personagens, Veronica. E aí está o que mais me agradou nesse livro. O modo como a história é contada, mais do que a história em si.

Embora a narrativa não seja linear, oscilando entre passado e presente, não há confusão alguma. A condução de Anne Enright, sua construção, funciona bem. Nem a inconstância de Veronica, a personagem-narradora, que vive no limite da consciência e da perturbação, representa um obstáculo ao leitor.

Apesar da dramaticidade, a narrativa é sóbria em sentimentos. A memória e a invenção se confundem. Veronica não sabe se imagina ou recorda. Em determinadas passagens, deixa claro sua invencionice. Afinal, o que importa se tudo se passou dessa ou daquela maneira? Poderia ter sido assim. E isso é o suficiente para desnudar os personagens que apresenta.

E em todos os momentos, os laços de família. Que une cada um ao outro. Uma corda que aperta braços, cinturas, pernas, pescoços. Às vezes tão forte a ponto de sufocar. Amor e ódio. Vida e morte.

Gosto da novidade do texto de Anne Enright, da agressividade e dramaticidade de Veronica, do seu tom seco e cortante, da ironia. E, por debaixo disso, a dor. Imensa. Excruciante. Pelo que se perde e pelo que se ganha. Por se estar vivo e por querer morrer.

Ficha Técnica: "The Gathering", de Anne Enright, Editora Black Cat, New York: 2007. (Publicado no Brasil com o título “O Encontro”, pela Alfaguara Brasil.)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Jesus da Costa

Chamava-se Jesus da Costa. Pregava a humildade. Por isso não acreditava em deus. Seria muita presunção.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Andrea del Fuego

Aos interessados, segue uma pequena 'amostra' do trabalho da autora: http://www.cronopios.com.br/stand-up/standup_andrea_del_fuego.pdf.

O Espaço do Leitor na Ficcção (debate)

Onde: Itaú Cultural (Av. Paulista, n. 149, esquina com a R. Leôncio de Carvalho)

Quando: Sexta, dia 22, às 20h

Debate: O Espaço do Leitor na Ficção ou Qual o Lugar do Leitor Real no Processo de Invenção?

Participantes: Bernardo Carvalho, Cintia Moscovich e Cristovão Tezza, com mediação de Manuel da Costa Pinto

“Qual o espaço ocupado pelo leitor real no processo de criação do escritor? Quem escreve conhece seu leitor real? Para quem se cria? Que tipo de público (faixa etária, classe social etc.)? Como lidar com três leitores bastante reais: o editor, o tradutor e o crítico literário? Se você é escritor, costuma mostrar seus originais a alguém antes de enviá-los para a editora - um leitor antes do leitor? O que você pretende que o leitor sinta ao ler um livro seu? Que tipo de leitor você acha que está representado nos seus livros? Quais leitores da chamada vida real você transforma em personagens?”

Esse debate faz parte do programa "Encontros de Interrogação", que acontece de 21 a 23 de maio no Itaú Cultural. Entrada gratuita. Ingressos distribuídos no local com meio hora de antecedência.

Mais informações: http://www.itaucultural.com.br/index.cfm?cd_pagina=2841&cd_materia=983&mes=5&ano=2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Stand-Up Literatura com Andréa del Fuego

Começou assim...

“Tomei um elevador com Clarice Lispector. Ela usava um vestido esmeralda e uma opala pendurada numa corrente. Segurava o cigarro para acendê-lo quando saísse, me olhou do joelho aos pés. Eu parei no térreo, ela continuou descendo.”

Andréa é jovem. Cabelos negros encaracolados, pele branca. Chegou protegida por uma espécie de timidez desenvolta. Simpática, carismática. Conquistou o público de imediato.

Leu alguns de seus textos, acompanhada por Celso Amâncio no violino. Isso tudo no pequeno café da Martins Fontes. Aos poucos, um grupo de pessoas passou a se aglomerar na entrada do café. Todos muito interessados.

Eu não conheço o trabalho de Andréa del Fuego, mas os títulos dos seus livros de contos soaram como provocação: “Nego tudo”, “Minto enquanto posso” e “Engano seu”. Comigo, funcionou. Deu mesmo vontade de ler.

Acabo de descobrir que ela também gosta do José Luís Peixoto, um dos autores portugueses cujo trabalho eu tenho acompanhado desde a última Flip. Resumindo, gostei da prévia. Incluí Andréa na minha lista de autores a conhecer.

Terminou assim...

“Nuno Leal Maia me pediu o telefone do William Bonner. Não posso dar, conheci ele há pouco tempo, vai achar que tô distribuindo contato. Nuno Leal Maia tem que entender minha posição, o Bonner precisa confiar em mim.”


Andréa Del Fuego foi a autora convidada do segundo encontro do Stand-Up Literatura, resultado da parceria do Portal Cronopios (www.cronopios.com.br) com a Livraria Martins Fontes. (O primeiro aconteceu em 03 de maio e teve o poeta Frederico Barbosa como convidado.) Além dos livros de contos já citados, a autora publicou também dois títulos infanto-juvenis: “Sociedade da caveira de cristal” e “Quase caio”.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Luana das rosas

Luana das rosas / Piercings nos lábios / Olhos de pitbull / Tatuagem no pescoço / Desmascarada por um sorriso

Vozes do Deserto

Espere uma lufada de vento. Quando ele chegar, feche os olhos. Sinta no rosto os grãos de areia. No alto da cabeça, a ardência do sol. Apure os ouvidos e ouça as vozes. E os berros. E os lamentos. E os uivos. E os gemidos. E procure. Procure sem cessar. Até ouvir uma voz. Voz de mulher. Que dança ao sabor do vento, revoluteia no ar, ágil, rápida. Que soluça e ri e ama e sofre e ameaça e ataca e recua. Não há como errar. É essa mesma. A voz dela. Dentre todas as vozes do deserto, você encontrou Scherezade.

Ouvi muitas histórias de Scherezade. Mais ainda, as histórias que Scherezade contava. Ali Babá, Aladim, Simbad. Mas foi ao ler o livro de Nélida que me dei conta de não saber o destino da mais famosa contadora de histórias do mundo.

Acho que isso significa que Scherezade era mesmo uma boa narradora. Justa, essa homenagem a ela. Ainda mais em forma de livro.

“Vozes do Deserto” narra a história de Scherezade, a jovem esposa que, para escapar da morte, enredava o califa em suas histórias, noite após noite, conquistando mais um dia de vida em troca da promessa do desenlace de uma nova aventura – quem não se lembra de “As mil e uma noites”?

A arte de narrar é o que sustenta toda a história. A tensão entre os personagens. As três mulheres isoladas no palácio. O Vizir. O Califa. E Fátima pairando sobre todos. A narrativa como vício e salvação. Como forma de viver o mundo. Como uma forma de vida.

Engraçado ter escolhido exatamente este livro pra ler, entre tantas possibilidades oferecidas pela autora. É o meu segundo livro dela. O primeiro foi “Coração andarilho”, autobiográfico. Há muitos pontos de contato entre eles, como não poderia deixar de ser.

Nélida, como Scherezade, é uma contadora de histórias. Cria suas narrativas em papel. Inventa personagens, envolve-os em sua trama, traça destinos. Seduz o leitor para que ele a acompanhe, prenda-se a ela. Sussurra em seu ouvido. Grita para ser ouvida no meio de uma tempestade. Cala-se até que ele implore para ouvir novamente sua voz.

O que move Nélida? O que ganha em troca de suas histórias? A favor de quem ou do quê exercita sua arte? Por que insiste e persiste na escritura? Para escapar da morte. Provavelmente.

Ficha Técnica: “Vozes do Deserto”, Nélida Piñon, Ed. Record, 2004.

Do Quiroga, sobre sonhos

“É só um sonho. Esta frase tenta transmitir a ideia de que os sonhos devam ser desvalorizados, enquanto a realidade concreta afirmada. Porém, a emoção sentida na presença de um sonho renega esta idéia de aparente bom senso.”

“Com certeza, é insensato correr atrás de sonhos para realizá-los. Sensato seria preservar o que já tenha sido conquistado. Porém, se a vida, para ser bela e gloriosa, precisa de uma dose de insensatez, o que você espera, então?”

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Blooks - Tribos e Letras na Rede



Estive no SESC Pinheiros ontem para acompanhar a primeira mesa de debates da programação do Blooks (blogs + books). Com a palavra: Ana Paula Maia, João Paulo Cuenca e Samir Mesquita. Mediação de Xico Sá.

Dos três convidados, só conhecia o João Paulo por conta das crônicas no jornal O Globo. Pouco depois descobri que também já havia lido sobre o trabalho do Samir, mais especificamente o livro “Dois Palitos” (recomendo uma visita à página http://www.samirmesquita.com.br/doispalitos.html).

O tema em pauta era a literatura sem papel. De novo a discussão sobre o futuro dos livros. Acho muito engraçada essa preocupação com o suporte material do livro, ou melhor, da palavra escrita. Que raio de diferença isso faz?

Pouco me importa se vou ler a palavra no papel, na tela do computador ou de um outro dispositivo eletrônico qualquer, projetada na parede, flutuando no ar feito um holograma.

Aliás, já pensou que delícia seria deitar na sua cama confortavelmente e ler o seu livro sem esforço, colhendo as letrinhas no ar? Nada de curvar as costas, torcer os pescoço ou esfolar os cotovelos.

Pena que quase nada se falou sobre as oportunidades que surgem a partir dos novos meios. Embora não se possa confundir o suporte material com o texto, também não se pode negar que ele representa limitações e possibilidades.

Deixando de lado outras experiências – como a do audiolivro, por exemplo – e falando apenas sobre papel e internet: no papel, o texto é estático, não há possibilidade de interação do leitor, os recursos gráficos disponíveis são limitados. Na internet, é possível fazer o contraponto disso tudo.

Não quer dizer que um meio seja melhor do que o outro. Apenas têm características diferentes. Eu gostaria de perder meu tempo pensando em como explorar essas características para contar uma história. Nesse sentido, achei muito interessante a novidade do trabalho do Samir.

Mas o saldo final foi bastante positivo. Saí de lá com muita coisa na cabeça: pensamentos e idéias, informações, dúvidas, irritações, curiosidades, inconformismos e alguns novos nomes.

Alta Literatura
Qual é a altura da literatura? Alta ou baixa, magra ou gorda, não importa. Gostaria que as pessoas lessem mais. Qualquer coisa que fizesse bem a elas. Emocionasse. Confortasse. Incomodasse. Divertisse.

O Famigerado Leitor
Quem é o leitor? Colega de profissão, aspirante ao cargo, nerd de plantão? O que ele quer? Precisamos encontrar/formar leitores que deem cabo da atual produção literária ou produzir literatura que dê cabo dos leitores?

Ana Paula Maia
Está prestes a publicar em papel um livro que já foi publicado na internet. Acredita na web como um eficiente meio de divulgação do seu trabalho. Por meio dela, o leitor tem a oportunidade de conhecer e se interessar pelo trabalho do autor. Lembra que não internet não é gênero, mas sim veículo. E que não existe ficcção para internet. Ficção é ficção, seja publicada em papel ou em meio digital. Acredita que a internet possa atrair mais leitores para o livro impresso.
Blog da Ana Paula Maia: http://www.killing-travis.blogspot.com/

João Paulo Cuenca
Não acredita que exista literatura para internet. Literatura é literatura. O suporte não é tão importante. Tem um blog desde 2001. O que ganhou com essa experiência? Uma espécie de pacto com o leitor, um espaço para testes, uma maneira rápida de se comunicar. Se considera ‘velho’ e se julga pessimista.
Blog do João Paulo Cuenca: http://oglobo.globo.com/blogs/cuenca/

Samir Mesquita
Fez o livro na caixinha de fósforo (“Dois palitos”, 2007) e acabou de lançar um livro novo, o “18:30”, que chama de ‘livro-mapa’. Adepto dos microblogs, que publica via twitter. Vê a internet como uma boa alternativa para divulgar seu trabalho. Acredita em seu potencial para atrair mais leitores para o papel. Com certeza, vale a pena acompanhar o trabalho do Samir. Criativo, novo, interessante.
Site do Samir Mesquita: http://www.samirmesquita.com.br/

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Casa das Rosas

Estou descobrindo a Casa das Rosas aos poucos. Engraçado como leva tempo. Para você se acostumar com a falta de infraestrutura. As janelas sempre fechadas para resistir aos ruídos da Paulista. O calor insuportável. A precariedade do banheiro. E se concentrar apenas nas pessoas e nas rosas.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Só os melhores



Sentado no banco, o menino espera, impaciente, sua vez de jogar. Mais impaciente do que ele, só o pai, que nunca jogou bola na vida, plantado ao lado do campo, resmungando contra a insensibilidade do técnico que ainda não escalou o filho para o time.

De dois em dois minutos, o menino se levanta e pergunta: posso jogar, tio? Não, o técnico não é tio dele, mas o menino é pequeno demais para se preocupar com formas de tratamento.

O time começa perdendo e segue assim até o final. Não que ele se importe. Está mais animado com a expectativa de entrar em campo. E, finalmente, é chamado, faltando 3 minutos para o fim da partida.

Assim que ele pisa no campo, dá pra ver porque é reserva: salta de um lado por outro, brincando. Mas ainda tem a chance de pegar na bola. Participa, é o que importa. O avô, encostado à grade, grita instruções: “vai atrás da bola, vai pra frente!”.

Se, para o jogador, aquilo não passa de uma divertida brincadeira, para o avô, a coisa é séria. Preocupa-se com o desempenho do neto. Olhos grudados no campo. Impossível conter a voz, os gestos. E a satisfação por estar ali. O menino responde: “sou defesa, vô!”.

Nada pode diminuir a alegria do garoto, o sorriso de canto a canto. Nem o time, que perde de 4 a 2. Nem o final da partida. Tem motivo para isso, afinal, nem todos foram chamados para o jogo. Só os melhores.

Na volta pra casa, dentro do carro, ele pergunta: “Você viu que o juiz apitou bem na hora que eu ia chutar para o gol?”. Vi sim, Bruno. Vi tudo.

Ricardo

Ricardo morreu. Aos 32 anos. Acidente. Eu mal conhecia o Ricardo. Ele fez alguns trabalhos para mim, era motoboy. Daqueles que resolvem todos os problemas. Daqueles a quem você pode confiar um saco de dinheiro, uma entrega importante.

Educado. Gentil. Cuidava de tudo. Da família também. Da mãe, a quem ajudou a abrir seu próprio negocio, do irmão, a quem ajudou a conseguir emprego. Era um moço grandalhão, bonito. Falava bem. Sorria um sorriso tímido.

Eu mal conhecia o Ricardo. Por isso tive vergonha de ficar triste por ele. Tive vergonha por lamentar, por deixar meus olhos se emocionarem por mim. Como se só pudéssemos sofrer com a perda dos amigos. Como se tivéssemos que conhecer alguém para então lamentar a sua morte. Como se fosse preciso conhecimento e amizade para se interessar por outras pessoas.

Ricardo morreu.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Antídoto

Alegadamente, um livro de contos inspirado no disco “The Antidote”, dos Moonspell. Não sei se “inspirado” é a palavra certa. O fato é que disco e livros estão intimamente relacionados.

De novo o movimento circular do texto. De novo personagens emparedados, presos em armadilhas, que não encontram saída. Mistura de delicadeza e desilusão. Amor e morte. Com franca vantagem para a morte.

Como se não houvesse solução possível para a vida.

Para Peixoto, não há redenção.

Ficha Técnica: “Antídoto”, José Luís Peixoto, Temas & Debates, 2003.

Dentro e sobre os homens - José Luís Peixoto

"Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que abismos os puxam e devoram. Atravessamos cada ramo das árvores interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços, pelas pernas, pelos olhares. As raízes agarram-se ao coração e nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e apertam e esmagam essa pedra de fogo. Como sangue, somos lágrimas. Como sangue, existimos dentro dos gestos. As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos. E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos. O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode se tocado. Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as idéias, a esperança e o desencanto.
(...)
Dentro e sobre os homens, somos o medo. (...)"

(Conto intitulado "Dentro e sobre os homens", em “Antídoto”, José Luís Peixoto, Temas & Debates)

Crise do macho

A crise é do macho, mas a culpa é da mãe. Não há mesmo justiça neste mundo. Os psicanalistas que me perdoem, mas essa história de botar sempre a culpa na mãe só pode ser trauma de infância.

A “crise do macho” é o tema que o Café Filosófico, programa da TV Cultura exibido nas noites de domingo, propôs-se a abordar durante 4 encontros. A coordenação, assim como a palestra de abertura, coube a Contardo Calligaris, psicanalista e escritor, cronista da Folha de S.Paulo.

O ator Ricardo Bittencourt, ora na pele dele mesmo, ora encarnando o protagonista de “O homem da tarja preta”, divide o palco com Contardo, que também é o autor da peça.

Mas que crise é essa? Pois é, eu também não sabia. Segundo Calligaris, a partir dos anos 50/60, os homens, gradativamente, passaram da posição de detentor do desejo a objeto dele. Quando a mulher descobre, ou reconhece, o prazer sexual e se arvora no direito de vivenciá-lo, ela passa de objeto do desejo à posição de titular dele. Aí começa a crise.

Mas esse é só o ponto de partida. A discussão vai muito além. O que mais me interessou foi parar para pensar, pelo menos um pouco, sobre o papel do homem na sociedade de hoje.

A impressão geral é de que os homens têm seu papel na sociedade já definido, cristalizado, e que são as mulheres que vêm se esforçando para modificar o papel delas, ou, melhor, construir um novo.

Esse exercício de se colocar no lugar do outro é sempre divertido. Não que eu nunca tenha pensado nisso, mas, talvez, nunca tenha pensado desse jeito.
Convidados: Ana Verônica Mautner (06/05), Octavio Souza (13/05) e Bete Coelho (20/05).

domingo, 3 de maio de 2009

Guimarães Rosa

Domingo, dia 03, às 13h, entre o SESC Paulista e o Itaú Cultural

Uma homenagem do SESC ao Guimarães Rosa. No palco montado na esquina da Av. Paulista com a R. Leôncio de Carvalho, foram representados, ilustrados, lidos trechos de “Grande Sertão Veredas”. Uma maratona prevista para durar das 11h às 19h.

Em volta da instalação, alguns bancos coloridos, de madeira, convidavam os pedestres a sentar e acompanhar a movimentação. O sol ajudou. Torcedores de futebol, mal educados, que passavam em seus carros gritando e incomodando, atrapalharam.

Mas foi um bom encerramento para a minha versão da Virada Cultural.

Cantadores e repentistas

Domingo, dia 03, às 12h, na Casa das Rosas

Adoro o jardim da Casa das Rosas. E o café também, apesar do péssimo repertório musical desta manhã. Mas valeu a pena ter ido para lá, ainda consegui assistir a apresentação dos cantadores Sebastião Marinho, Luzivan Mathias e Andorinha. Muito divertido. Não só pelas músicas, como, principalmente, pela conversa de Sebastião.

Fez questão de lembrar que, não fossem os cantadores e repentistas, Padre Cícero e Lampião, por exemplo, não teriam deixado vestígio de suas respectivas existências.

Comovente a sinceridade do cantador ao declarar que, apesar de precisar da mídia, tem muito ‘medo’ dela. Pois, segundo ele, a mídia transforma o trabalho do artista em mero trabalho comercial e, tudo que é comercial, é descartável.

Não sei se as coisas se passam realmente dessa maneira, mas reconheço que o risco existe, e é grande.

Essa apresentação foi um bom contraponto para as da véspera. O sotaque nordestino versus o acento francês. A simplicidade versus a sofisticação. Lembrando que a arte é sempre arte, e está em todos os lugares.

Gente demais, espaço de menos

Minha vontade era passar a noite na rua. Tinha uma lista enorme de possibilidades, de lugares a visitar, espetáculos para assistir. Mas, de volta ao Anhangabaú, um pouco antes da meia-noite, tomamos um susto. Os palcos estavam praticamente inacessíveis – gente demais e tumulto, com direito à intervenção policial e gás de pimenta (ou algo parecido).

Desistimos do centro. E meus amigos resolveram ir para casa. A mim, faltou planejamento para continuar sozinha.

Installation de Feu

Sábado, dia 02, às 22h, no Parque da Luz

Pela primeira vez, vi o parque em chamas. Ordenadas. Formando figuras geométricas, revelando palavras, símbolos, desenhos. Dançando de acordo com a música. Iluminando o lago. Maravilhando as esculturas que, há muito, têm no parque o seu lar.

Antes das 22h, a escuridão imperava. Do café da Pinacoteca ao parque. Uma delícia ficar ali à toa, tomando café e jogando conversa fora na expectativa do fogo.

Depois, o fogo. O calor e a fumaça. E a sensação de estar pela primeira vez num lugar em que já se esteve antes, muitas vezes antes.

Espetáculo da autoria da “Cie Carabosse” (www.ciecarabosse.fr).

Transports Exceptionnels

Sábado, dia 02, às 19h20, na Praça do Correio

Um homem e uma retroescavadeira. Uma história de amor. Envolvente. Comovente. Os amantes se encontraram em frente ao prédio dos Correios, no Vale do Anhangabaú. No ar, uma música de derreter.

Na arena, os dois se enfrentam: homem e máquina. Sim, máquina. A restroescavadeira, em momento algum, deixa de ser o que é, um amontoado de ferro e graxa. Não, ela não representa uma mulher. Não, a longa e flexível haste que sustenta a pá não se assemelha a um braço. A pá, na faz às vezes de mãos.

Ainda assim estavam apaixonados, eu juro. Homem e máquina.

A companhia francesa responsável por esse feito é a “Cie Beau Geste”. Coreógrafo: Dominique Boivin. Bailarino: Philippe Priasso. (www.ciebeaugeste.com)

sábado, 2 de maio de 2009

Virada Cultural

Começa daqui a pouco, às 18h. Meu ponto de partida será a Pinacoteca. Mais precisamente, a visita noturna ao Parque da Luz. Não vejo a hora de sair de casa, mas tenho que esperar minha câmera fotográfica terminar de carregar.

O que mais me anima nesse evento é sua capacidade de reunir pessoas tão diferentes, transformando programas culturais em programas populares. Derrubando preconceitos. Chamando todos à experimentação. Diversão garantida! Não devia ser assim sempre?