domingo, 28 de dezembro de 2008

O homem ou é tonto ou é mulher

Disparate. Espera-se uma coisa e encontra-se outra, diferente. No meio da loucura a lucidez. Ou será o contrário? Talvez isso não importe, afinal, lucidez e loucura andam sempre juntas.

Nesse monólogo, Gonçalo Tavares mistura obsessões, fúrias, amores e loucura. Tudo amarrado em poesia. Nos deixamos levar pelo desvario de um louco furioso e, de repente, somos surpreendidos por uma idéia, algo que desprende do texto, capaz de abalar o raciocínio mais lúcido.

O texto flui, a narrativa prende. O personagem desloca-se muito à vontade de uma página a outra, de um tema a outro.

Este é o primeiro livro que leio de Gonçalo Tavares. O próximo será “Jerusalém”, romance vencedor do Prêmio Portugal Telecom de Literatura em 2007.

Ficha Técnica: "O homem ou é tonto ou é mulher", de Gonçalo M. Tavares, Editora Casa da Palavra

Equador

Descobri que não conheço nada da história de Portugal. Aquilo que eu pensava conhecer é nada mais do que história do Brasil, ou, melhor, a parcela da história do Brasil na qual Portugal tem papel de destaque.

Por isso, ler Miguel Sousa Tavares sempre desperta minha curiosidade. Claro, trata-se de ficção. Mas, bem ou mal, vários incidentes reais do percurso de Portugal são mencionados, revisitados e reinventados.

Ao ler sobre a relação de Portugal com suas outras colônias é impossível não pensar em sua relação com o Brasil e nos desdobramentos das decisões tomadas em 1808.

Passei boa parte do livro me angustiando com a inaptidão do personagem para o cargo de governador de São Tomé e Príncipe, mas torcendo por ele. Sufocada pelo calor úmido da ilha, transpirando, sentindo seus cheiros e gostos.

Até onde sei, trata-se do primeiro romance de Miguel Sousa Tavares. Mas li, antes dele, “Rio das Flores”. De alguma forma, “Rio das Flores” me parece uma evolução de “Equador”. Há um equilíbrio maior, um domínio maior do autor sobre os diversos elementos da narrativa. Gostei de “Equador”, mas me encantei com “Rio das Flores”.

Ficha Técnica: “Equador”, de Miguel Sousa Tavares, Editora Nova Fronteira